O encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e os apresentadores do Jornal Nacional, Willian Bonner e Renata Vasconcellos, pode ser chamado de qualquer coisa, menos entrevista. O que se viu foi um festival de caras e bocas, além de grosserias, por parte dos anfitriões, em uma tentativa torpe e debochada de ambos de manipular a opinião pública contra Bolsonaro usando, por várias vezes, informações distorcidas, tornando o encontro um desserviço ao processo eleitoral.Agressivo, Bonner iniciou o encontro bem ao seu estilo: prolixo e enfadonho, demorando vários minutos para tentar formular uma pergunta sobre, pasmem, golpe político. Há que se dizer: como apresentador vá lá, Bonner até é competente, mas como entrevistador, é notória a sua dificuldade. Depois de uma longa e sonolenta explanação, apesar de agressiva e deselegante, ouviu do presidente que seus argumentos eram fake news e a eleição ocorreria sem problemas, desde que fosse limpa e transparente. Debochado, insistiu que Bolsonaro havia dito isso e aquilo sobre as urnas eletrônicas. Sem levantar o tom de voz, Bolsonaro tranquilizou Bonner: “Fique tranquilo. Teremos eleições”.
Irritado com a tranquilidade do presidente, o apresentador do JN passou, então, a agredir os apoiadores da candidatura de Bolsonaro, tratando-os como golpistas. De repente, saca do bolso uma estranha e esdrúxula exigência: “contenha seus apoiadores, candidato”.
A postura agressiva de Bonner não chegou, no entanto, nem aos pés da ferocidade da sua colega de bancada. Coube a ela tratar do tema pandemia. Sem fazer uma pergunta objetiva, Renata Vasconcellos se limitou a dizer que Bolsonaro havia sido contra a vacina, que defendeu o tratamento precoce, a história do jacaré, a CPI da Covid, a Pfizer, a Coronavac e mais um tanto de observações sem, novamente, fazer nenhuma pergunta.
Bolsonaro aproveitou para citar os números do auxílio emergencial, quantas famílias foram atendidas e quanto havia sido investido. Explicou, mesmo sem ser perguntado, as razões para não aceitar o contrato com a Pfizer. Lembrou que o Brasil começou a vacinação quase ao mesmo tempo que a maioria dos países e, apesar dos protestos da apresentadora, afirmou que mostrou solidariedade aos brasileiros que perderam entes queridos.
Os apresentadores do JN levaram um baile quando resolveram falar sobre economia. A tal ponto de ter sido o assunto com menos tempo de debate já que o cenário apocalíptico desenhado por Bonner foi rebatido por Bolsonaro com números que, ao que parece, o apresentador desconhecia.
Nesse ponto chega a ser risível a postura dos apresentadores globais. Gastaram minutos preciosos do encontro para tratar da pandemia, mas sequer levaram em conta os efeitos dela, e da paralisação do país, sobre a economia. Paralisação, é bom lembrar, defendida pela telejornal da Globo, apesar dos alertas de Bolsonaro sobre os prejuízos que causaria à economia do país.
A questão ambiental foi outro momento bizarro do encontro. Apesar de ser um assunto extremamente amplo, só interessava aos apresentadores questionar Bolsonaro a respeito de desmatamento. Quiseram saber, inclusive, por que o Ibama estava sendo impedido de destruir equipamentos apreendidos, como tratores e serras. “Porque é o que manda a lei”, respondeu Bolsonaro. A vontade de manipular o telespectador foi tamanha que Bonner sequer fez a lição de casa. Irritado, e novamente com um sorrisinho debochado no rosto, mostrou desconhecimento respondendo: “a lei?!”. Recebeu do presidente o devido esclarecimento. “A lei manda retirar do local o material apreendido quando ele tem condições de ser transportado. Apenas cumpri a lei”, respondeu Bolsonaro.
O melhor, no entanto, ainda estava por vir. Bonner quis tratar de política e, mais uma vez, gastou vários minutos para dizer que Bolsonaro não havia cumprido uma promessa de campanha. “O senhor se aliou ao Centrão”, cobrou. A resposta foi hilária e pegou o apresentador de surpresa. “Você quer me transformar num ditador”, disse o presidente. Assustado, Bonner negou, ao que Bolsonaro explicou que os acordos políticos eram necessários para a governabilidade e que, com eles, vários projetos que beneficiaram o país foram aprovados, entre eles o auxílio emergencial e as reformas que permitiram reduzir tributos.
A dupla global ainda abordou outros assuntos, como educação e Polícia Federal. Os dois tentaram, de todas as formas, irritar Bolsonaro, que respondeu as perguntas, coisa rara no encontro, sem mostrar a mesma agressividade dos apresentadores.
O que fica desse encontro é que a Globo perdeu uma excelente oportunidade de prestar um serviço decente ao processo eleitoral. Se tratasse a situação como uma entrevista, de fato, teria dado espaço para o candidato apresentar propostas.
Ao contrário, Bonner e Vasconcellos se arvoraram a promotores públicos num tribunal de inquisição, atacando o “réu” e tentando manipular os jurados, no caso os telespectadores, a declará-lo culpado sem que o mesmo tivesse oportunidade de se defender. Um péssimo exemplo de jornalismo, ou melhor, um excelente exemplo de mau jornalismo. É esperar para ver se os outros candidatos vão merecer o mesmo tratamento.
HojePR