Especialistas alertam que cuidar de netos é saudável, mas não pode comprometer a qualidade de vida do idoso
Os serviços de Psicologia e Assistência Social do Centro de Convivência do Idoso (CCI) identificaram que uma das principais causas da evasão da instituição é a necessidade de os avós cuidarem dos netos. “Alguns dos nossos usuários não estão participando das atividades por conta de gripes e resfriados comuns nesta época, outros por dificuldade no transporte, já que o coletivo está bastante limitado e uma boa parcela não podem sair de casa porque tem que cuidar dos netos. Uns que faziam atividades duas ou três vezes por semana estão vindo apenas uma vez por semana, porque têm que cuidar de netos”, diz a coordenadora do CCI, Beatriz Gehlen.O CCI é uma instituição mantida pelo Instituto Maurício Gehlen (IMG) que atende gratuitamente pessoas acima de 60 anos com atividades físicas, recreativas e com oficinas. Durante dois anos as atividades foram suspensas por conta da pandemia. A retomada foi em março deste ano.
O primeiro sinal de alteração entre os usuários é que boa parte deles vinha sofrendo com os sentimentos de luto e solidão, provocado – ou ao menos agravado – pela pandemia. Esta situação levou a coordenação do CCI a aceitar uma oferta de duas psicólogas de terapia em Grupos de Luto.
“Agora o que temos observado é que alguns usuários se sentem frustrados por terem que parar de frequentar o CCI porque têm que cuidar dos netos”, relata Beatriz.
De acordo com a psicóloga Maisla Yara Souza, cuidar dos netos é uma atitude saudável e prazerosa, mas ela “não deve ser imposta. Os filhos precisam respeitar a individualidade das mães e não impor este encargo. Ela já cumpriu com a parte dela”, diz a profissional, acrescentando em seguida que “não estamos dizendo que as avós não podem cuidar dos netos. Claro que sim. É até saudável esta convivência. Mas quando ela tem que abrir mão de atividades importantes para sua qualidade de vida aí é hora de repensar”.
Maisla Souza diz acreditar que esta situação não é decorrência de abuso ou maldade. “Acredito piamente que os filhos fazem isso involuntária e inadvertidamente. Não é intencional. Diria que é uma falta de atenção e até de reconhecer que a prioridades dos pais, embora adorem cuidar dos netos, têm que ser outras”.
Esta situação não chega a ser nova. “Antes da pandemia caia muito a frequência dos usuários no período das férias escolares. No retorno das aulas nossa frequência também voltava à normalidade”, atesta Beatriz. Agora, no entanto, reconhece ela, é uma situação diferente.
“As pessoas querem focar, pedem para garantirem sua vaga, pois acreditam que vão voltar, que cuidar dos netos é só por um período”, relata a coordenadora do CCI.
Na avaliação dos serviços de Psicologia, Assistência Social e da Coordenação, a pandemia deve ter agravado a situação. Para estes profissionais, a pandemia foi causa de desajustes em várias famílias, inclusive com separações de casais. “Algumas mães hoje não têm com quem deixar os filhos e acabam apelando suas mães, sem se atentar que podem estar comprometendo a qualidade de vida delas”, analisa Beatriz Gehlen.