Hospital já enfrentou todos os tipos de dificuldades
durante a pandemia. A mais nova é a falta de soro
A pandemia da Covid-19 vem perdendo força no Brasil desde fevereiro deste ano. Em 31 de janeiro deste ano, a média móvel de casos no país era de 188.785 por dia, já em 11 de maio caiu para 11.474. A redução também foi drástica no número de mortes. Em 11 de fevereiro a média móvel diária de mortes foi de 886, contra 96 em 7 de junho, o que é bastante significativo para um país que chegou a ter média mortes acima de 3 mil por dia.
No Paraná, a curva de casos e óbitos também caiu na mesma proporção – em alguns momentos a queda foi até mais acentuada. Em Paranavaí, a pandemia também perdeu força nos últimos meses com redução drástica dos casos de internamentos e óbitos.
O arrefecimento da pandemia, no entanto, ainda não permitiu que a Santa Casa de Paranavaí voltasse à sua normalidade. “Ainda não voltamos ao normal após a fase mais crítica da pandemia”, diz o diretor-geral do hospital, Héracles Alencar Arrais.
No começo da pandemia, a Santa Casa sentia falta principalmente de respiradores. Quando chegou o auge da pandemia, o hospital começou a sofrer para adquirir EPIs (Equipamentos de proteção Individual), como máscaras, luvas, gorros, aventais etc. Estes produtores começaram a escassear e quando encontrava os preços estavam na estratosfera. O preço de alguns equipamentos chegou a se multiplicar em até 14 vezes. No período também houve falta de anestésicos.
Outra grande dificuldade foi o afastamento de funcionários que se contaminaram ou tiveram contato com pessoas contaminadas. Para se ter uma ideia, no dia 12 de janeiro deste ano, 58 dos 571 funcionários da Santa Casa de Paranavaí, ou seja, 10%, estavam afastados por alguma relação com a Covid-19. Foram afastados servidores da enfermaria, recepção, cozinha, lavanderia, centro cirúrgico, pronto socorro e administração.
NOVO DESAFIO – Além de ainda estar enfrentando um robusto déficit financeiro provocado pela pandemia da Covid-19, que reduziu a receita e aumentou as despesas, o hospital enfrenta agora uma nova dificuldade: a falta de soro, um dos insumos mais utilizados nos hospitais.
Segundo o presidente da Santa Casa, Renato Augusto Platz Guimarães, “não se encontra mais soro e quanto encontra o preço está pelo menos 400% a 500% mais caro. É um absurdo”.
Para se ter uma ideia a Santa Casa utiliza mais de 4 mil litros de soro fisiológico 0,9%, divididos em frascos de 100 ml, 250 ml, 500 ml e um litro. Até fevereiro um litro deste soro custava R$ 4,00. Agora custa, entre R$ 18,00 e R$ 20,00.
Além do soro fisiológico, o hospital utiliza mensalmente cerca de 180 litros de soro Glicofisiológico em frascos de meio e um litro; 460 litros de – soro Glicosado 5%, também em embalagens de 100 ml, 250 ml, 500 ml e um litro.
A Santa Casa ainda utiliza, em média, 350 litros de Solução de Ringer com Lactato por mês e 10 litros de Solução de Manitol 20%.
OFÍCIO ÀS AUTORIDADES – Por conta das dificuldades em encontrar estes produtos, na semana passada, Renato Guimarães encaminhou ofício ao Ministério Público, Poder Judiciário e à 14ª Regional de Saúde informando estes órgãos que “estamos diante de uma nova crise, que afeta todo o país, com o desabastecimento de medicamentos e, principalmente, quanto ao fornecimento de soro (todos os tipos: fisiológico, glicosados, ringers etc).
No documento a Santa Casa alerta que não está conseguindo repor os estoques e admite que “em muito breve, talvez, não tenhamos este insumo para tratar os nossos pacientes”. Segundo Arrais, o hospital pagou antecipadamente R$ 40 mil em soro, mas entrou numa fila que pode demorar entre 30 e 60 dias para fazer a entrega.
Para evitar um colapso por conta da falta do soro, a direção do hospital está orientando a utilização do insumo com racionalização, “em volume adequados e essenciais no tratamento dos pacientes”. Se a falta de soro persistir, a Santa Casa não descarta a possibilidade de suspensão de procedimentos eletivos.
“É uma situação muito delicada que estamos tendo que lidar. É o desiquilíbrio financeiro, os insumos desaparecendo ou com os preços muito alto. Precisamos da ajuda de todos para sairmos desta situação”, diz Guimarães.