As “mães” dos “filhos dos milagres”

Publicado em 12 de dezembro de 2022

PrematuridadeA Santa Casa de Paranavaí realiza uma média de pouco mais de 200 partos por mês. Desse total, cerca de 10% vão parar na UTI neonatal do hospital. A maior parte destes bebês é prematuro, que pode ficar dias, semanas ou até mais de três meses, como um que nasceu com 22 semanas e pesava 500 gramas. Em alguns casos, a mãe chega ao hospital até dois meses antes do parto e são internadas para “segurar a gravidez”. Ou seja, dois meses a mãe internada e depois três meses com a criança na UTI neonatal.Nestas condições não há como não criar um forte vínculo entre os pais, a equipe de enfermagem da unidade neonatal e o bebê.

Durante recente evento alusivo ao mês internacional da sensibilização da prematuridade (Novembro Roxo), criado para alertar sobre como prevenir e o que fazer quando ocorre o nascimento antecipado do bebê, mães de prematuros nascidos na Santa Casa deram seu testemunho. Costumam chamar os bebês de filhos ou filhas do milagre, porque resistiram à prematuridade, se desenvolveram em incubadoras e ganharam peso e resistência para ir para casa, o momento mais aguardado pelas mães. “É uma frustração ir para casa sem o bebê no colo”, como disse uma das mães.

Prematuridade-01Pra as mães, os pediatras, enfermeiras, técnicas e auxiliares (a enfermagem da UTI da Santa Casa é toda feminina) são “anjos da guarda”

Dos 20 bebês que vão na média mensal para a UTI, 75%, ou seja,15 deles são prematuros. Os outros são nascidos no tempo correto, mas que necessitam de cuidados intensivos devido outros problemas, principalmente pulmonares (pneumonia e bronquites). O tempo médio de internação na UTI neonatal, de maneira geral, é de 20 a 30 dias.

É visível que a relação da equipe de enfermagem com as crianças é de uma “segunda mãe”. Assim que as mães foram chegando ao evento, seus filhos passaram de colo em colo e uma delas recebeu até mamadeira das mãos de uma das enfermeiras. “Segunda mãe” agora que estão fortes e com a família, porque durante a internação são verdadeiras “mães” dos “filhos dos milagres”.

As mães e pais podem visitar seus filhos em dois horários pré-determinado e no final de semana há um horário para os avós.

Durante o período de internação são as enfermeiras que têm maior contato com os recém-nascidos. É natural essa aproximação. Mas estas “mães” não são possessivas.

Quando os bebês vão evoluindo, com programação de alta, a equipe de enfermagem realiza um trabalho de introdução aos cuidados com alguns pais. Esse trabalho consiste em a mãe ser chamada à UT neonatal, em horário especial, para realizar o banho e ser orientada com relação a esse cuidado”.

Em outras oportunidades, como quando o bebê começa a ser estimulado a sugar também é realizado um tratamento diferenciado, que é a liberação da mãe entrar nos horários da dieta para estimular a sucção do leite materno. Só para bebês maiores é autorizada a presença de um acompanhante, como previsto no Estatuto da Criança.

Isto sem contar que elas têm o capricho de deixar a criança “preparada” para as visitas maternas. Com a ajuda de uma voluntária que fornece as peças, as enfermeiras banham e “enfeitam” as crianças. As meninas sempre estão com uma tiara.

A humanização no atendimento vai além: elas sempre têm um polvo de crochê. Estas peças envolvem os bebês e aumentam a sensação de acolhimento nas incubadoras, evitando choques e acidentes nas paredes do leito. Além disso, os tentáculos remeteriam ao cordão umbilical da mãe, dando ideia de proteção ao bebê. A malha macia dos bichinhos é comparada ao útero. Os polvos são produzidos por outra voluntária. Ambas foram homenageadas.

NINGUÉM FAZ NADA SOZINHO – O evento realizado no último dia 30 serviu também para que a equipe de enfermagem da UTI neonatal homenageasse colegas do hospital, que, de forma direta ou indireta, contribuem com os trabalhos da unidade. “Ninguém faz nada sozinho”, disse a enfermeira Maristela Gervário da Silva. Ela e sua colega Daiane Lopes Ribeiro, com o auxílio da assistente social Andreza Mara Campos de Melo, organizaram a apresentaram o evento. Ela lembrou que a UTI neonatal rende muitas histórias, algumas alegres, mas também perdas indesejadas.

Um vídeo foi apresentado com várias fotografias de crianças que passaram mais recentemente pela unidade. Desde sua criação, já passaram pela UTI neonatal mais de quatro mil crianças. “Muita gente ajuda a gente”, acrescentou. O vídeo também apresentou fotos de homenagens que a equipe fez aos parceiros dos diversos setores do hospital.

A pediatra-chefe da UTI, Daniela Frazatto falou rapidamente de seu trabalho e reforçou que, sozinha, seu trabalho não teria muito resultado. Contou que trouxe para assistir aquele momento seu filho adolescente para ele conhecer o trabalho e a dedicação de toda a equipe. Uma das mães disse que a médica “é um anjo da guarda que Deus colocou em nossas vidas”

DEPOIMENTOS – Cristiane Souza Seleguin, mãe de uma criança que nasceu com 26 semanas de gestação, pesando 815 gramas ficou com a filha 108 dias na UTI neopediátrica. “Foram dias de luta. Houve momentos de choro, desespero. Era uma dor muito grande. Ela precisou de transfusão de sangue, teve uma infecção. Mas Deus não faz o milagre pela metade”, contou ela com a sorridente bebê no colo.

Thaise Ferreira Chiquito Sanches precisou da UTI neonatal por duas ocasiões. Em 2019 teve uma gestação complicada, de alto risco, segundo suas próprias palavras. O bebê nasceu com 35 semanas de gestação, mas durou poucos dias. Em 2020 engravidou pela segunda vez e, novamente seu bebê precisou de tratamento intensivo, ficando alguns dias na UTI até se recuperar completamente. “A UTI é um lugar de amor. Elas cuidam de nossos filhos como se fossem delas”, afirmou.

E em 2022 engravidou novamente, descobriu a gestação com 17 semanas. Desta vez, a gestação não teve intercorrências e o bebê não precisou  de vaga de UTI. Foi o parto mais tranquilo dela.

Thaynara Marta Pomin Gomes é mãe de Matheus, o menino que nasceu com 25 semanas de gestação. “Foi uma gestação conturbada. Fiquei dois meses internada antes do parto para segurar o bebê”, contou. Para ela, a sobrevivência do garoto “foi um milagre de Deus”. Ele ficou dois meses e duas semanas em tratamento intensivo e depois mais um mês na enfermaria. “Apesar de tudo, ele evoluiu super bem”, contou ela que entre a sua internação e a do bebê enfrentou duros cinco meses de hospital.

Na porta da UTI neonatal tem uma frase que chama a atenção das mães e elas gostam de repetir. A frase diz o seguinte: “Deus nunca disse que a jornada seria fácil, mas Ele disse que a chegada valeria a pena”. Ela é atribuída a Max Lucado, um escritor e pastor evangélico norte-americano e foi lembrada pela assistente social Andreza de Melo no evento. Esta frase faz todo o sentido para as mães de crianças nascidas prematuramente e que vão para tratamento intensivo.

GESTÃO – O final do evento foi com os pronunciamentos do diretor-geral do hospital, Héracles Alencar Arrais, e da gerente de Enfermagem, Marily Vasconcelos Gomes, que atuam na gestão da Santa Casa. A enfermeira manifestou sua satisfação com o trabalho desenvolvido na UTI neopediátrica. “Estou muito feliz com a equipe. É um orgulho para todos nós”, disse ela.  Falou de sua gratidão a todos os colaboradores do hospital, que também contribuem com a UTI neonatal. Reconheceu que “temos muita coisa ainda a fazer por esta causa nobre, mas estamos avançando”, complementou ela.

Emocionado, Arrais falou das grandes dificuldades que a Santa Casa de Paranavaí enfrenta neste momento. “É o pior momento dos últimos 20 anos. Não é uma situação isolada. Esta é a situação de todas as santas casas do Brasil. Tem hospital fechando, outras reduzindo leitos, inclusive de UTI”.

Ele aproveitou o momento para agradecer a todos os colaboradores (“são 700 filhos”), que têm sido “grandes parceiros e compreendem as dificuldades”. Mas procurou dar uma injeção de ânimo. “Está difícil, mas não vamos ‘jogar a toalha’. Não vamos deixar ninguém para traz. Ouso dizer que temos a melhor equipe do Paraná. Que Deus abençoe a todos nós, vamos permanecer unidos e continuar prestando um serviço de qualidade a toda nossa região”, finalizou Arrais.

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