Os olhos do Zé

Publicado em 08 de julho de 2021

Renato Benvindo Frata

Por falar em olhos, Einstein disse que “poucos são os que veem com seus próprios olhos e sentem com seus próprios corações”, alusão ao desrespeito que muitos se dão ao discernirem coisas sob a ótica de terceiros.

O Zé tinha olhos estrambóticos que não se prestavam a ver por si mesmos: simplesmente desenchergavam sem que houvesse maneira de lhes cobrar definição. Tudo por causa do estrabismo em que um, ressabiado, vigiava o outro e o outro, cismado, vigiava o um cuidando. Uma judiação! Se precisasse distinguir algo, e precisava, a vesgueira dupla obrigava a que fechasse um olho para o ajuste de foco do outro, o que prova a sua desvisão, se assim se pode dizer. Chateava-se tanto que a um médico Zé reclamou da dificuldade e aquele bem rapidinho, cerrou um dos olhos com tampão deixando-o no escuro, esperando que o que ficara à luz não tendo a quem vigiar, passasse a enxergar direito.

E o Zé, agora igual a pirata desfilando o tampão no esquerdo, esperava pela direitice do direito. Esperou, esperou… Mas, depois de dois meses, nada! O direito não desentortava, o que fez com o Zé cansado desse sangangu, mudasse de olho o tampão. “– Se o direito quer ser burro, que seja um burro cego!” – disse diante do espelho a despejar sua insatisfação com o olho birrento. 

E qual não foi a alegria que se estampou na cara: ao perceber a luz, o olho esquerdo que não era bobo desbalanceou loguinho a vesguice, dando ao Zé enxergadura perfeita. 

E o Zé, sambando de felicidade, comprovou que a oportunidade quando agarrada faz consequência direta, ou direita, ou mais ou menos isso, porque conseguir ver com os próprios olhos e sentir com o próprio coração é tarefa de que ninguém pode dispor. 

Nem se contrapor, porque entre olhar e enxergar há diferença tão grande que vesguice alguma compreende: olhos que somente olham são diferentes dos que só enxergam. 

Assim como os de certos agentes públicos que continuam olhando, mas veem bulhufas com seu estrabismo desconcertante …

 

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