PARANÁ JUNHO SEM DROGAS
As pessoas buscam as drogas para preencher um vazio, alerta psiquiatra

Publicado em 17 de junho de 2021

Pr-sem-drogasAs pessoas buscam as drogas “para preencher algum vazio, algo que está faltando. A pessoa sente um vazio emocional. A droga lhe dá prazer e funciona como um anestésico contra sentimentos negativos, faz esquecer o sofrimento. Isto acontece quando, por exemplo, tem um pai violento, uma família conturbada”.O comentário é do psiquiatra Edmo da Silva Bordin, que tem 12 anos de experiência no tratamento de dependentes químicos, oito dos quais em Paranavaí, e é o especialista que atende no CAPS AD (Centro de Assistência psicossocial – Álcool e Drogas).
Este mês, é realizado o movimento Junho Paraná Sem Drogas, quando profissionais e voluntários que atuam na área realizam um trabalho de conscientização do problema. Em Paranavaí as ações são coordenadas pelo Conselho Municipal de Polícias Públicas sobre Drogas (Comud). Nos últimos dois anos, este trabalho de conscientização está sendo feito pelas plataformas digitais em razão da necessidade de distanciamento social por causa da pandemia da Covid-19.

CONJUNTO DE CAUSAS – Bordin diz um “conjunto de causas” pode levar a pessoa à dependência química. Nenhuma destas causas sozinhas são determinantes para o uso de drogas (lícitas e ilícitas), mas a somatória delas desemboca no uso e consequentemente no vício.

Segundo o psiquiatra, contribuem para levar a pessoa a dependência uma pré-disposição genética (parentes com alcoolismo, por exemplo), a vivência num ambiente onde o acesso às drogas é fácil (em casa, na escola, no trabalho, entre os amigos, etc), pessoas com algum transtorno psiquiátrico, como depressão, ansiedade e algum tipo de esquizofrenia. “É um conjunto que pode levar a criança, jovem ou adulto para as drogas”, diz Bordin. Deixa transparecer, no entanto, que o ambiente domiciliar é o mais perigoso, quando pais usam drogas ilícitas, bebidas e cigarros. É este fator que também está contribuindo para que adolescentes entrem mais cedo no caminho das drogas. “As crianças e adolescentes estão tendo contato com as drogas cada vez mais cedo”, diz.

Por isso que, a recuperação dos dependentes devem ser um trabalho de uma equipe multidisciplinar, com psiquiatra, psicólogo e assistente social. “Temos que tratar o dependente e dar suporte à família”, sentencia o especialista. A família, complementa, é essencial no resgate do dependente.

As influências positivas também devem vir da escola, da prática de esportes e de uma educação religiosa. “Não interessa qual religião, o importante é ter uma religião. E isto vale para adolescentes e adultos também”, enfatiza.

PANDEMIA – Edmo Bordin confirma que a pandemia da Covid-19 levou medo à sociedade e contribuiu para o aumento do uso de drogas, especialmente as lícitas, como álcool, tabaco, calmantes e ansiolíticos. “As pessoas se sentiram sufocadas, o que gerou stress, mais casos de depressão e ansiedade. Além do medo, tivemos a dor do luto, o distanciamento social, o impacto na economia, o medo de perder o emprego”, constata.

Esta situação levou mais pessoas ao consultório do psiquiatra e ao CAPS AD, comprovando que as consequências da pandemia atingiram todas as classes sociais. “Afetou principalmente as pessoas mais vulneráveis, que já tinham uma pré-disposição a transtornos e que já vinha apresentando alguns sinais dantes mesmo da pandemia”, revela.

Com base em estudos da Fiocruz, Bordin diz que a pandemia aumentou o uso de drogas em 20% da população entre 18 e 29 anos e 25% na faixa etária entre 30 e 39 anos. E o uso de tabaco cresceu em média 35% na população.

De acordo com o psiquiatra, os transtornos causados pela pandemia vão demorar algum tempo para desaparecer. “A dor do luto, o medo do convívio social e do desemprego, a recuperação da capacidade das crianças em voltar as aulas presenciais e o home office ainda vão perdurar por mais algum tempo depois de terminar a pandemia”, estima o psiquiatra.

Quem teve acompanhamento médico no uso de remédios contra a ansiedade e o stress retornarão mais fácil à normalidade. “Mas quem abusou de ansiolíticos e calmantes por conta própria (e por isso não farão parte das estatísticas), levarão um bom tempo para se livrar da dependência”, sublinha o especialista.

 

Dicas para manter a saúde mental na pandemia

O psiquiatra Edmo da Silva Bordin dá algumas dicas para prevenir as doenças e transtornos mentais que podem ser provocados pela pandemia:

– Viver o mais próximo possível do normal, tomando os cuidados sanitários. Se a pessoa está em home office, que procure trabalhar das 8 às 18 horas, como fazia antes.

– Fazer exercícios físicos.

– Praticar um hobby, como trabalhos manuais, cuidar de plantas e jardins, fazer crochê etc.

– Tomar a luz do sol diariamente pelo menos entre 10 e 15 minutos.

– Manter a fé (religião). Como as igrejas estão fechadas, fazer o acompanhamento religioso por outros meios, como a internet e a TV.

– Usar suplementos de vitaminas, mas com orientação.

– Alimentação saudável.

– Continuar com os contatos familiares, através de telefones e vídeos. Não perder o vínculo familiar.

– Ter uma boa noite de sono.

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