Ansiedade e dificuldades econômicas provocam uso indiscrimado
de drogas lícitas, alerta Dante Ramos Júnior
O presidente do Conselho Municipal de Políticas Públicas sobre Drogas (Comud) de Paranavaí, Dante Ramos Júnior, alertou nesta segunda-feira (31) que a ansiedade, a perda de entes queridos, dificuldades financeiras e falta de convívio social, provocados pela pandemia da Covid-19 têm levado muitas pessoas a abusarem de drogas lícitas, como o álcool e calmantes. “O problema maior é que estão tomando ansiolíticos e calmantes sem acompanhamento médico. E a pergunta que se faz é: e quando isto terminar, vão ter conseguir parar com tudo isso ou já estarão dependentes?”, questiona ele.Ramos fez o comentário ao falar da campanha Junho Paraná Sem Drogas, que começa nesta terça-feira (1) em todo o Estado. Esta mobilização vem sendo realizada desde 2017. Este ano, como em 2020, as principais ações serão realizadas através de painéis on line nas redes sociais do Conselho Estadual de Políticas Públicas Sobre Drogas (Conesd PR). A cerimônia de abertura terá a presença dos secretários Guto Silva (Casa Civil) e Romulo Marinho Soares (Segurança Pública), deputado Gilson de Souza (presidente da Frente Parlamentar de Prevenção às Drogas), delegado Renato Figueiroa (diretor do Núcleo Estadual de Políticas sobre Drogas – NEPSD PR) e do advogado Luiz Carlos Hauer (presidente do Conesd). A abertura ocorrerá às 18h30 ao vivo pela rede social Facebook.
Logo após a abertura, dois temas serão abordados. A palestra magna será “A Família no Cenário de Drogas do Brasil” e será apresentada por Ronaldo Laranjeira. E na sequência uma live abordará a “Prevenção Contra as Drogas na Pandemia”, com José Augusto Soavinski e Nelson Venâncio Filho. O Comud-Paranavaí vai divulgar o calendário das lives. A programação já está disponível no site www.conesd.pr.gov.br e nas redes sociais do Conesd.
PANDEMIA – Ramos afirma que a pandemia do coronavírus levou o consumo de álcool e de ansiolíticos a “patamares preocupantes”. “Para fugir da ansiedade provocada pelo home office, distanciamento social e pelas dificuldades financeiras, o brasileiro, como é da nossa cultura, procurou uma ‘muleta’. Neste caso está sendo beber, fumar e o uso de calmantes. A gente espera que, após a pandemia, as pessoas voltem ao normal. Mas muitos estão tomando medicamento sem acompanhamento médico e terão dificuldades de parar. É uma situação difícil. As pessoas que não conseguem lidar com esta angústia provocada pela pandemia devem procurar um psiquiatra, um psicólogo, enfim, um terapeuta”, diz ele.
Para agravar a situação, uma outra “muleta” comum em ocasiões como essa, é buscar o apoio nas igrejas. “Mas, em partes, a pandemia também tirou isso do cidadão. As igrejas estão abertas com restrições, o que dificulta o conforto espiritual e impede o convívio que faz bem ao emocional”, lamenta.
O presidente do Comud-Paranavaí avalia que a dificuldade em enfrentar a nova realidade deve perdurar pelo menos uns três anos. Isto porque, ainda que a vacinação cresça e se consiga controlar a pandemia, os danos emocionais são irreversíveis a curto prazo.
“Muitos estão perdendo um ou mais entes queridos, perdendo amigos e conhecidos. Outros estão perdendo posição social por conta do estrago na economia. A reversão destas sequelas não acontecerá em curto prazo. Enquanto persistir este estrago emocional, persistirá o perigo do abuso destas drogas lícitas”, explica Ramos Júnior.
Sobre o efeito da pandemia entre os dependentes em drogas ilícitas ainda não há um levantamento dos impactos. “Como estas pessoas agem à margem da lei não temos informações precisas. Mas o Comud vai começar em breve buscar informações junto ao CAPS AD (Centro de Apoio Psicossocial – Álcool e Drogas) e comunidades terapêuticas para levantar este impacto.
FAMÍLIA – Dante Ramos Júnior, que há pelo menos seis anos está ligado a área de prevenção e combate as drogas, lamenta que, nos últimos anos, pouco se avançou nesta área. Ainda é grande o número de viciados. Aponta entre as razões a desagregação familiar, a necessidade de pais deixarem seus filhos enquanto vão trabalhar e a falta de escolas de tempo integral para acolher estas crianças, que “acabam se tonando presas fáceis para traficantes, seja para trabalhar como “aviões” (entregadores de drogas) ou mesmo como usuários.
Ele, no entanto, vê uma luz no fim do túnel pelos investimentos que começaram a ser feitos e a criação de uma política pública mais abrangente. Como exemplo, cita que no Governo Federal somente o Ministério da Justiça tratava deste assunto., “Agora, o Ministério da Justiça cuida do aparelhamento para combater as drogas, com recursos oriundos de leilões de produtos apreendidos. E os ministérios da Cidadania e dos Direitos Humanos atuam na prevenção, humanizam a política pública. “Mesmo assim ainda tem muita droga circulando. Os adolescentes estão amadurecendo mais rápido e começando a usar drogas lícitas e ilícitas mais cedo”, diz ele.
Os estados também estão se articulando através dos conselhos estaduais sobre drogas. O Paraná, além do Conselho e do Núcleo, tem assento no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), vinculado ao Ministério da Justiça. O delegado Renato Figueiroa representa os órgãos estaduais responsáveis pelas políticas sobre drogas.
O combate às drogas também não avançou, na avaliação de Ramos, porque, embora os governos fizeram investimentos, os narcotraficantes se organizavam mais fortemente. “É uma organização global. Tem uma série na Netflix que está fazendo muito sucesso, que é a Rainha do Sul, que mostra bem como são estas organizações. Elas são poderosíssimas”, aponta.
Agora, no entanto, com a transversalidades das ações abre-se uma esperança. “Cabe aos governos estaduais e municipais e à Frente Parlamentar de Combate às Drogas unir forças aos ministérios da Justiça, da Cidadania e de Direitos Humanos para criarmos uma rede de proteção às crianças, adolescentes e jovens, de combate ao tráfico e de recuperação dos dependentes”, finaliza Ramos.