“Tivemos que nos reinventar”, diz chefe da UTI da Santa Casa,
Bruno Leal, sobre a maior necessidade de uso de medicamentos
A Santa Casa de Paranavaí tem assistido nos últimos dias a multiplicação no consumo de materiais de proteção, como aventais, máscaras, toucas e medicamentos, especialmente os utilizados na Ala Covid-19, com 20 leitos de UTI e 10 leitos de enfermaria. “Vivemos um momento dramático e temos que acompanhar diariamente os estoques. O consumo está muito acima do normal”, informa o diretor-geral do hospital, Héracles Alencar Arrais. A Santa Casa é a referência de Covid para 28 municípios da região.
“O consumo de medicamentos na UTI acompanhou a explosão dos casos de Covid. Tivemos que nos reinventar, usando drogas alternativas. Sempre usamos os medicamentos com racionalidade. Agora, usamos com extrema racionalidade. Como se diz popularmente, ‘estamos nos virando no 30’”, atesta o médico-chefe da UTI, Bruno Leal. “Sempre acompanhei os níveis de internações no Paraná e nunca chagamos nem perto do que está acontecendo hoje”. Confirma o diretor-técnico do hospital, Jorge Pelisson.
A elevação do consumo de medicamentos e dos equipamentos individuais de segurança (EPI), do preço destes produtos e a queda na receita por conta da suspensão dos atendimentos e cirurgias eletivas particulares de convênios têm preocupado a diretoria da Santa Casa. “Estamos muito preocupados com a situação atual e futura do hospital. Nos questionamos diariamente: como vai ficar a Santa Casa no período pós pandemia? Vamos ter as condições para permanecer com as portas abertas?”, questiona Arrais.
O consumo médio mensal de EPIs na Santa Casa está altíssimo, especialmente de aventais descartáveis GR 30 (3 mil), aventais cirúrgicos descartáveis GR 80 (1.500), luvas de látex para procedimento (1.300 caixas com 100 unidades), máscaras triplas descartáveis, com elástico (25 mil unidades), máscaras N95 (1.200 unidades), máscaras para não reinalação descartáveis (100 unidades), propé descartáveis (9 mil) e toucas descartáveis (9 mil).
O uso de medicamentos aumentou significativamente nos últimos meses. Estão sendo consumidos, em média, por mês, 900 ampolas de Midazolan 15 mg/3nl, 300 ampolas do mesmo medicamento com 50 mg/10ml, 3 mil ampolas de Propofol 10 mg/ml 20 ml, 600 frascos de Rocurônio 10 mg/ml 5 ml, 2 mil frascos de Fentanil 0,05 mg/ml 10 ml e 25 ampolas de Atracurio 10 mg/2,5ml.
UTI – Estes medicamentos são utilizados basicamente na UTI, onde tem aumentado o número de jovens internados. “Os mais jovens são mais difíceis de sedar. Já os mais idosos, consomem menos, pois pela própria senilidade, a sedação ocorre com menos medicamento”, explica Leal.
O médico relata que pessoas mais jovens têm sido internadas e geralmente com o pulmão mais comprometido pela demora em procurar ajuda médica e pelo fato de a doença neste momento estar mais agressiva. “Não posso dizer quais cepas estão circulando na nossa região, porque não fazemos aqui o sequenciamento do genoma. Comprovadamente, por um estudo do Hospital das Clínicas da USP, temos nove cepas diferentes circulando no país. Quais chegaram aqui não sabemos”, diz, acrescentando que, em relação a primeira onda da pandemia, os casos agora são bem mais graves. “A contaminação é mais agressiva”, diz.
Bruno Leal informas que ainda não há remédios para esta doença “e não vai ter, porque é um vírus, como é a dengue, a gripe e a zika vírus. O que procuramos fazer é dar a melhor terapia para dar suporte ao paciente até ele produzir os anticorpos”. O intensivista lembra que a vacina e as medidas de segurança, como o uso de máscara, a higienização das mãos e o distanciamento social são as únicas alternativas para evitar a contaminação ou seus efeitos mais graves. A outra alternativa, compara ele, é participar da “roleta russa” com as possibilidades de ser contaminado e, neste caso, ser um paciente assintomático, com sintomas leves ou moderados e precisar de um hospital e da UTI e esperar o desfecho da situação.