Mesmo não parando por ser essencial, agro sentirá efeitos econômicos da Covid

Publicado em 07 de abril de 2020

Pandemia mostra a importância do setor
para a segurança do país, diz Ivo PierinIvo-Helicóptero

O fechamento de restaurantes, lanchonetes, bares e refeitórios de empresas e instituições e a oscilação no comércio exterior, por conta da pandemia do Covid-19, “quebrando” a cadeia de consumo nacional e internacional, vão provocar impactos negativos ao agronegócio, tanto no campo como na agroindústria. Ainda que as medidas de isolamento social não tenham atingido o setor, por ser atividade essencial, os reflexos econômicos são inevitáveis. As entidades ligadas ao agronegócio já começam a calcular o tamanho do prejuízo e apontam que as demissões serão inevitáveis.
O raciocínio é do presidente do Sindicato Rural de Paranavaí e vice-presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), Ivo Pierin Júnior. “Com a estrutura de consumo atingida, estreita-se o gargalo. Haverá menos consumo. Com isso deverá reduzir o valor dos produtos do campo e diminuir a produção. Afinal para que o agricultor vai produzir? Para jogar fora?”, questiona ele.
Pierin acredita que “o impacto econômico no agronegócio será grande” e lamenta que as demissões vão ocorrer no setor. “Quanto tempo vamos demorar para baixar o índice de desemprego depois? O desemprego deixará um grande número de pessoas sem renda, restringindo o consumo e impactando o agronegócio”, explica ele.
O Centro de Estudos do Agronegócio da Fundação Getúlio Vargas (FGV) está monitorando os efeitos do coronavírus na economia, com base em indicadores oficiais, como cotações, volumes de exportações e importações e tendências de consumo. O Departamento Técnico Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR também elaborou um estudo semelhante, direcionado à realidade do Paraná, revela Pierin.
Estes estudos apontam que, exceto a pecuária (carne), em termos globais – levando-se em consideração todos os produtos do agronegócio do Paraná – a pandemia quebrou o aumento contínuo do faturamento com vendas externas. Nos dois primeiros meses deste ano, as exportações dos produtos do agro paranaenses encolheram 10,1%, ficando em quase US$ 1,6 bilhão. No caso do complexo soja – responsável pelo maior faturamento dos embarques do Estado – a queda foi de 20,5%: US$ 89,1 milhões menos que o arrecadado no mesmo período do ano passado. No caso dos produtos florestais, o encolhimento dos embarques foi de 34,7%.
SAFRA 2020/21 – O vice-presidente da FAEP diz, com base nos estudos, que o resultado só não foi pior porque a pandemia afetou bolsas de valores do mundo todo e, no Brasil, provocou a alta do dólar, cuja cotação passou dos cinco reais, valorizando o produto quando o valor é convertido para a moeda nacional. Mas esta alta do dólar, que agora ajudou a compensar a queda das exportações, impactará no custo de produção da próxima safra.
O surto mundial de coronavírus deve impactar o planejamento da safra 2020/21, especialmente no que se refere a importação de insumos agropecuários. Pierin lembra que “hoje, dois dos maiores fornecedores desses produtos ao Brasil são Rússia e China. De ambos, as importações brasileiras reduziram drasticamente. A compra de insumos dos chineses, por exemplo, despencou 27,5% em fevereiro desde ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Essa redução pode estar ligada as dificuldades de embarque na China, falta de oferta ou porque o câmbio alto desestimulou a importação desses produtos.
A pandemia atingiu o Brasil quando o produtor deveria estar preparando a próxima safra. Logo, todos estes fatores vão impactar na produção, o que praticamente afasta a expectativa de um novo recorde de produção, como estava previsto para o período 2020/21.
Pierin adverte que os impactos negativos não serão exclusivos para o agro. Ressalta que a economia mundial vai reduzir o ritmo de crescimento. A China, considerada atualmente a maior força econômica mundial, já sofreu redução de 0,8% na atividade econômica. Além disso, as commodities agrícolas têm operado em patamares bem menores do que operavam, por exemplo, na virada do ano. É o reflexo da pandemia e aponta que os produtos estão perdendo preço, aponta ele.
Se servir de consolo, diz o líder sindical, a tendência, no entanto, é de que o setor agropecuário, de um modo geral, reduza menos a sua produção em relação a outros setores da economia.
IMPORT NCIA DO AGRO – “Esta pandemia estás mostrando, mais uma vez ne fica claro até para aquele que não quer ver, que muitas vezes se posta como inimigo do setor, a importância do agronegócio até para a segurança do país. Imagina o que seria essa pandemia se o agricultor não fosse para o sacrifício, não se expusesse a riscos, para garantir a produção e a distribuição de alimentos. Seria a extrema calamidade”, enfatiza Pierin Júnior.
Ele diz que o momento deve ser também para reflexão por parte daqueles que fazem oposição ao agronegócio, por estar alinhado ideologicamente a setores que criticam a produção primária, muitas vezes qualificando a atividade como inimiga da natureza, por exemplo. “Hoje está claramente demonstrado a importância do agro para o país. O Brasil tem um papel fundamental a cumprir que é o de ser o provedor de alimentos para o mundo”, reforça o vice-presidente da FAEP.
A ideologização da discussão em torno da pandemia – avalia ele – tem prejudicado tomadas de decisões acertadas. “Infelizmente estão preferindo ficar do lado A ou B por ideologia e não por convicção isto só atrapalha”, diz.
Embora antecipe que não há uma posição oficial da Confederação Nacional da Agricultura, da FAEP e dos sindicatos rurais em relação ao isolamento social, já que se trata de um “tema controverso”, ele lamenta as perdas econômicas que a pandemia está provocando. Os estados terão perdas significativas, porque vai cai a arrecadação da anergia elétrica e do combustível, por exemplo. “E vão buscar ajuda do Governo Federal, que também terá sua arrecadação reduzira. Vai fazer o quê? Vai invadir a Casa da Moeda?”, questiona com uma pitada de humor.
Ele lamenta que algumas decisões que tentaram dificultar a produção e, principalmente o escoamento da produção agrícolas e de produtos da agroindústria. “Todos tem a prerrogativa de ser contra ou a favor de determinada situação. Assim como temos a prerrogativas de ser contra as medidas que atingem as agroindústrias e a agropecuária”, sentencia o líder sindical.
Ivo Pierin Júnior diz que o país não pode ficar em isolamento social por vários meses, como apontam algumas lideranças, até que se encontre a cura e uma vacina. “Não é questão de minimizar os efeitos do novo coronavírus. O problema é sério, é real. Mas é preciso buscar alternativas, criar protocolos para o retorno da atividade econômica”, finaliza o sindicalista.

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