Pandemia atrasa abertura, mas Unidade Morumbi poderá ser usada para covid-19

Publicado em 06 de abril de 2020

Unidade seria aberta no 2º semestre, mas faltam equipamentos
e profissionais. Entrega de equipamentos está suspensa

Unidade-Morumbi-01Além de provocar a suspensão das cirurgias eletivas e outras atendimentos ambulatoriais, a pandemia do novo coronavírus, o Covid-19, está provocando mais uma consequência na Santa Casa de Paranavaí: o atraso do início das atividades da Unidade Morumbi, que está com suas instalações físicas concluídas, mas ainda não tem equipamentos e profissionais para começar a operar.Mas, caso haja um número elevado de pacientes vítimas da pandemia, os casos menos graves, de média complexidade, que precisam apenas de suporte respiratório leve (sem necessidade de entubar) e medicação, a nova unidade poderá ser utilizada provisoriamente. Uma ala, com 20 leitos, começa a ser preparada para esta situação.
“Desde que os recursos para aquisição dos equipamentos foram liberados, em outubro do ano passado, começamos a tomar as providências para adquiri-los. Alguns chegaram, mas ainda falta muita coisa. E outros, especialmente os importados, estamos tendo dificuldades para comprar. O que custava 100 reais, agora não se consegue comprar nem por 200 reais”, lamenta o presidente da Santa Casa, Renato Augusto Platz Guimarães. “Não dá para fazer uma previsão de quando a Unidade Morumbi será aberta enquanto perdurar esta situação de pandemia”, acrescenta ele.
“Equipamento hospitalar não se compra da noite para o dia”, explica o diretor técnico do hospital, Jorge Luiz Pelisson. “Se você vai comprar um equipamento para o centro cirúrgico, tem que conversar com os cirurgiões e os anestesistas para ver o que é possível comprar de melhor com os recursos que dispomos. Se for um equipamento de UTI, temos que consultar os intensivistas. E depois tem que ver quem oferece o melhor preço”, assinala o diretor técnico.
Um bom exemplo do que está acontecendo é dado pelo gerente financeiro Marcelo Salles Cripa. Ele conta que estava em processo de aquisição de um arco cirúrgico por R$ 400mil. O valor máximo era de R$ 428 mil. Como conseguiu mais barato, a diferença seria usada na compra de outro aparelho. Na semana passada o fornecedor informou que só conseguiria entregar o arco por R$ 595 mil. “Além do mercado estar aquecido, pois o mundo inteiro está comprando equipamentos hospitalares, boa parte deles é importada. Quando fizemos o orçamento, os fornecedores faziam o cálculo da importação com base na cotação do dólar em mais ou menos quatro reais. Agora o dólar já passou de cinco reais e isto impacta na tabela de preços dos fornecedores”, aponta Cripa.
Ele diz que entre 60 e 70% dos equipamentos adquiridos já foram entregues, inclusive 54 camas hospitalares e monitores paramétricos. Um microscópio cirúrgico importado já está na aduana à espera da liberação. Mas a entrega de novos equipamentos está suspensa temporariamente.
Ainda que os equipamentos estivessem disponíveis, falta definir a forma de financiamento da Unidade Morumbi. Segundo estimativas de Cripa, de antes da pandemia, a nova unidade terá um custo mensal de aproximadamente R$ 3,5 milhões, entre folha de pagamento, insumos e manutenção. Mas sua capacidade de faturamento (95 leitos de enfermaria, 10 de UTI, serviço de imagem, centro cirúrgico etc) será de pouco mais de R$ 600 mil, já que o atendimento será exclusivo para pacientes do SUS, cuja tabela de remuneração de hospitais, médicos, serviços de diagnóstico etc, está defasada há anos.
Na Unidade Central, para cobrir o déficit provocado pelo SUS, a Santa Casa conta com a ajuda do Governo do Estado e com o superávit dos atendimentos particulares e de convênios. Na Unidade Morumbi, a diferença deverá ser rateada entre o Governo do Estado e as prefeituras da região, já que o atendimento será 100% para o sistema público. “Já estava sendo negociada a forma de rateio, mas as negociações foram suspensas depois que eclodiu a pandemia. E sem contrato de financiamento, não podemos nem pensar em contratar novos funcionários e médicos para atender no Morumbi”, explica Cripa.
O temor é que este é um ano eleitoral e o fim da gestão dos atuais prefeitos. Isto implica em limitações legais para algumas situações e ainda é o momento em que os prefeitos têm que se preocupar em fechar o caixa para não descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). “Será que os prefeitos vão querer assumir esta despesa? Isto é mais um complicador para abri a Unidade Morumbi”, diz o gerente financeiro da Santa Casa.
ENFRENTAMENTO AO CORONAVÍRUS – Enquanto algumas cidades estão montando os chamados hospitais de campanha para abrigar pacientes do Covid-19, é de se esperar que quem já tem um hospital pronto dê uma resposta mais rápida. “Temos consciência disso. E estamos nos preparando dentro do que está planejado e orientado pela Secretaria Estadual de Saúde, que por sua vez está recebendo orientações do Ministério da Saúde”, diz Pelisson.
“Não adianta abrir a Unidade Morumbi apenas por abrir. Cama por cama, nós temos na Unidade Central da Santa Casa”, explica a secretária de Saúde de Paranavaí, Andréia Vilar, presidente do Conselho Regional de Secretários Municipais de Saúde (Cresems) da Amunpar. Ela lembra que a Santa Casa tem contrato para realizar cirurgias eletivas para o Estado e ao Município de Paranavaí. “Suspendemos estes contratos para que houvesse sobra de leitos. E isto aconteceu. Estes leitos estão lá à disposição de eventuais pacientes de coronavírus”, explica ela.
Além da suspensão das cirurgias, o isolamento social em Paranavaí, definido em decreto do prefeito Carlos Henrique Rossato Gomes (Delegado KIQ), reduziu o número de acidentes de trânsito, o que também contribuiu para a sobra de leitos.
Pelisson diz que, graças a iniciativa do prefeito de promover o isolamento social, amparado pelo Comitê de Operação Emergencial (COE), tem dado tempo para a Santa Casa se preparar para enfrentar o Covid-19. “Ainda não temos nenhum paciente. Pelo menos por enquanto. Isso é resultado do isolamento defendido pelo COE e pelo prefeito”, diz ele
Segundo Vilar, uma ala da Santa Casa, o Setor D, já está disponível para receber os pacientes do coronavírus. Serão 30 leitos disponibilizados para os pacientes que contraírem o Covid-19. Destes, 10 o Governo do Estado deve equipar com equipamentos de UTI, especialmente respiradores. “Apelamos aos municípios da região e eles emprestaram seus respiradores. Já temos três leitos com respiradores”, revela a presidente do Cresems. “São leitos improvisados, com equipamentos usados, mas que resolvem até o Governo do Estado nos mandar os 10 respiradores como ficou acertado”, complementa Marcelo Cripa.
Além dos três leitos com respirador e enfermaria exclusiva, a Santa Casa também organizou uma recepção e um consultório específicos para atendimento dos casos suspeitos. Mas o atendimento ali, pelo SUS, só acontece depois de o paciente ter sido triado e avaliado na UBS Central (no terminal rodoviário urbano), porta de entrada no sistema público.
Se os leitos disponibilizados na Santa Casa forem insuficientes, outros 20 funcionarão numa ala que está sendo preparada na Unidade Morumbi. “Não dá para dizer que a Unidade Morumbi funcionará como um hospital geral. Será como um hospital de campanha, limitado, de média complexidade, para atender aqueles pacientes com dispneia (dificuldade de respirar caracterizada por respiração rápida e curta), que precisa de suprimento de oxigênio e medicação específica. Se houver piora, ele será encaminhado para a Unidade Central ou aos hospitais de referência em Maringá ou Umuarama”, explica Jorge Pelisson.
Para dar atendimento a estes eventuais pacientes no Morumbi, a Santa Casa está providenciando a construção do reservatório central de oxigênio. Isto não foi feito antes, porque o reservatório é cedido pela empresa fornecedora do oxigênio e a partir da instalação é cobrada uma taxa mínima de uso ainda que o gás não seja utilizado. Por isso é a última providência a ser tomada antes do hospital começar a funcionar. Sua instalação demora em média 45 dias.
Mas esta dificuldade será superada com a utilização de cilindros, chamados de torpedo de oxigênio, que traz a vantagem, neste caso, de serem portáteis.
Por outro lado, de acordo com levantamentos preliminares, para colocar a estrutura de 20 leitos na Unidade Morumbi para funcionar serão necessários, no mínimo, 24 técnicos de enfermagem, 4 enfermeiros e 4 médicos.
Para arregimentar esta mão-de-obra, a presidentes do Cresems anuncia que já está contando com a boa vontade dos municípios da região. Andréa Vilar antecipou que está conversando com os secretários de saúde e médicos da região e eles darão suporte nesta nova ala, caso haja necessidade de abri-la.
Pelisson, que é o presidente da Comissão de Residência Médica (Coreme) da Santa Casa, disse que também os médicos residentes atuarão na linha de frente no enfrentamento ao coronavírus. “No início houve um certo temor, que atingiu a todos nós profissionais. Mas agora já está tudo certo e até regulamentado. Além disso, os residentes estão comprometidos com esta nova situação que se apresentou”, diz o diretor-técnico do hospital.
“É uma situação nova. Todos estamos no escuro. Não tem um discurso acertado, é uma doença nova. Então, o Comitê de Contingência da Santa Casa e o COE estão tomando as decisões necessárias, acreditando piamente ser a melhor para o momento”, arremata Marcelo Cripa.

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