Infectologista diz que população ainda não acredita na gravidade da situação

Publicado em 23 de março de 2020

Quem não acredita que se contaminará deveria ser voluntário
na recepção dos pacientes no hospital, dispara a médica

A médica infectologista da Santa Casa de Paranavaí, Gislaine Erédia, chamou a atenção da população para a gravidade da situação com a pandemia do novo coronavírus, o Covid-19. “Infelizmente não estão acreditando que a situação é grave, que o vírus passa de uma pessoa para outra”, disse ela, apontando que o descuido acontece principalmente entre aqueles que, em tese, estão fora dos grupos de risco, principalmente os jovens. “É uma postura até egoísta pensar que, porque não está no grupo de risco, pode circular. Vai trazer a doença para dentro de casa e poderá contaminar aqueles que deram a vida por eles, os pais, os avós”, reforçou a médica.

Gislaine lembra que muitos dos infectados poderão ser assintomáticos, mas isto não significa que deixam de ser vetores. “Mesmo não tendo sintomas, estes jovens poderão fazer o leva e traz da doença. É um grande risco”, aponta ela.

Na Santa Casa, informou a especialista, as cirurgias eletivas estão suspensas tanto as que seriam realizadas pelo SUS como as de convênios e particulares. “Seria injusto suspender as cirurgias do SUS e continuar com as particulares, precisando de leito e eventualmente ele estar sendo ocupado por um paciente que fez cirurgia plástica”, disse ela, acrescentando que paras as urgências como obstrução intestinal, apendicite, casos de câncer etc, as cirurgias serão realizadas sempre que necessárias.

Questionada sobre quando se deve procurar um médico, já que a orientação é evitar ir as unidades de saúde, Erédia disse que sempre que aparecer um sintoma e este não desaparecer com o remédio costumeiro. “Como era feito antigamente. Por exemplo, se uma pessoa sempre teve uma dor nas costas não é por isso que ela deve procurar uma clínica agora. Espera mais um pouco. Vamos nos precaver da contaminação, ficando em casa e deixar leitos para quem realmente precisa. Agora se for uma dor no peito, que pode sugerir um infarto ou uma forte dor, que caracteriza a urgência, a pessoa deve procurar o serviço médico imediatamente”, ensina ela.

Mas, ainda que a pessoa queira procurar um médico ou um dentista para situações de não urgência dificilmente encontrará uma clínica aberta. Os médicos paralisaram as consultas e atendimentos ambulatoriais. “O dentista fica muito próximo ao paciente, o oftalmologista, para fazer um exame de fundo de olho, também tem que se aproximar do paciente. Estes são alguns exemplos. Esta proximidade entre o médico ou o dentista e o paciente não é recomendado”, exemplifica a médica. “O ideal é ficar em casa”, sentencia.

PRECAUÇÕES – A médica citou os casos de gripe. “Quem estiver gripado e não estiver com falta de ar, o melhor é ficar em casa. Até porque, nos postos de saúde e no hospital não tem remédio para isso. Ao contrário da gripe H1N1, que tínhamos o Tamiflu, agora não há nada a se recomendar”, lembrou, acrescentando que os antigripais comuns, para o combater os sintomas, podem ser utilizados. De outro lado, se a gripe vier acompanhada da dificuldade respiratória, o paciente deve procurar imediatamente o médico.

Ela chamou a atenção, também, para o uso de máscaras. “Só deve utilizar quem sabe usar. Estou vendo muita gente usar inadequadamente e sem efeito algum. A pessoa coloca a máscara, depois puxa de um lado, puxa de outro, ajeita para cima, puxa para baixo, deixa o nariz descoberto. Fazem isso a todo momento e com a mão contaminada, contaminando a máscara. (…) Nós não temos o hábito de usar máscara – só os cirurgiões estão acostumados -, por isso ela nos incomoda, dá angústia, falta de ar. Então, se vai usar, use-a corretamente: colocou, não mexe mais e se tiver que mexer, passe álcool antes na mão”, ensinou. “Pior do que não usar a máscara é usar sem saber”, acrescentou.

FUMANTES – Para a médica do corpo clínico da Santa Casa, fumantes e ex-fumantes, de uma maneira geral, devem evitar ir a supermercados, farmácias etc. Isto porque, eles fazem parte do grupo de risco. São Portadores de DPOC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica. “Hoje temos novas ferramentas e devemos usar esta tecnologia a nosso favor. Os supermercados possuem aplicativos para fazer as compras e entregam em casa. Então porque ir ao supermercado?”, questiona. Ela também estimula o uso de cartões de crédito/débito para o pagamento de contas, já que as cédulas circulam diariamente por muitas mãos, sendo um instrumento de transmissão.

Sobre uma das principais polêmicas que o isolamento social está provocando – a visita aos idosos – a infectologista dá algumas dicas. “Não podemos deixar os idosos abandonados. Se tiver que visitar um, tome banho, lave bem as cavidades nasais, escove o dente, faça gargarejo e visite, mas sem abraçar, sem beijar e procure manter 1,5 m de distância. Mantenha consigo álcool gel e limpe tudo o que tocar a cada dez minutos”, explica ela.

A respeito de novos medicamentos, como o Hidroxicloroquina, que estão sendo apontados como opção de cura para os pacientes com o Covid-19, Gislaine Erédia é taxativa: “não compre, deixa para quem precisa do medicamento. Até porque ainda não se sabe se ele vai ser usado. Ainda não existe, nem de longe, recomendação neste sentido. Ainda não tem nada descrito que esses medicamentos vão resolver”, finaliza a médica da Santa Casa.

 

 

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