Conta a história de que a economia do Brasil nos séculos 18 e 19 moveu-se no lombo de burros (entenda-se toda espécie asinina empregada no trabalho de carga, montaria e no manejo da terra). Eram tratados por seus tropeiros, arrieiros e bruaqueiros à base do grito e do relho, para que percebessem que havia ali alguém superior que mandava e devia ser obedecido.
Esse tipo de transporte foi muito usado nos trajetos longos como entre as Minas Gerais e Parati (mais de 500km), na condução do ouro destinado a Portugal, e nos caminhos do Sul entre cidades gaúchas e paulistas (mais de 1500km) com carregamento de mercadorias destinadas ao abastecimento dos centros maiores.
Embora estejamos em pleno século 21, a condição de nossa economia nada mudou apesar da evolução mecânica e logística dos transportes de bens e produção. Mudaram apenas os burros.
Se os de antes levavam às costas, bruacas e cestas, com peso de até 120 quilos por caminhadas médias de 35 quilômetros/dia, os de hoje, via impostos, levam às costas milhares de vereadores, prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores e uma imensa quantidade de comensais com suas mordomias (Poder Judiciário e Ministério Público) com seus deslizes, desmandos, insolência e incansável trabalho pela permanência do status quo.
Carregamos desde o político que vive entre nós a nos cumprimentar de quatro em quatro anos, os das capitais que se esfregam impudicamente no poder e os que se encontram além, refestelados em luxuosos gabinetes (cuja permanência se dá pela vida toda).
O interessante nessa esdrúxula comparação é que os bruaqueiros de agora agem de maneira diferente dos de outrora na condução de suas bestas: não usam relhos nem gritos, mas leis, feitas na surdina entre conchavos em benefício próprio ou dos seus na manutenção da mamata, o que dá no mesmo.
Analisando as figuras de linguagem: burro/eleitor, chega-se à borda de um abismo que pede decisão: ou continuamos sob a leniência dos desmandos que estralam em nossos ouvidos como os relhos de outrora, ou assimilamos a personalidade do burro que quando não quer, empaca; e se alguém o maltrata, devolve o maltrato em coices e dentadas na sua forma irracional de dizer: basta!
Dia 15 está aí, a pouco menos de uma semana e a escolha cabe a cada um de nós, os burros dessa relação. E o façamos sem qualquer exagero. Mostremos nossa insatisfação a quem demos pelo voto, o poder que usufruem.
Até o burro que é burro faz isso.
por Renato Benvindo Frata
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Muito boa, Renato, gosto muito de suas palavras, sempre!