Fecularias têm potencial “gigantesco” para bioenergia usando dejetos da mandioca

Publicado em 18 de fevereiro de 2020

A bioenergia pode iniciar novo modelo de negócio e ser
o terceiro ou quarto produto da indústria de mandioca

Fecularias-01“Gigantesco”. Esta é a opinião do presidente da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás), Alessandro Gardemann, ao comentar o potencial do Paraná, que produz 70% da fécula brasileira de mandioca, para a produção de bioenergia. “Temos que entrar fundos nos detalhes, identificar os potenciais. A gente tem na Associação que 18% do potencial brasileiro da agroindústria poderia vir da fécula. Então são mais de 10% do potencial da agroindústria da fécula está no Paraná. O potencial é gigantesco. É até difícil calcular”, acrescentou.

Fecularias-02Gardemann participou da última reunião da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (ABAM), que foi realizada em conjunto com o Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná (SIMP). Ele falou sobre o potencial nacional para a produção de energia elétrica, veicular e térmica a partir dos dejetos agroindustriais.

Segundo ele, só as fecularias do Paraná, por exemplo, têm capacidade para gerar 211 GWh/ano de energia elétrica, o que seria suficiente para atender mais de 109 mil casas no período. Se o potencial for convertido em combustível, considerando a média de um ônibus, daria para percorrer mais de 280 milhões de quilômetros em um ano.

Embora os dejetos podem ser transformados em emergia elétrica, veicular e térmica, a grande maioria das fecularias usa a anergia gerada a partir da biomassa apenas para secar o polvilho. “É possível vender essa energia em valor mais alto”, diz o presidente da ABiogás. “Hoje fiz um cálculo rápido e aproximado, mas a energia térmica custa R$ 100 o megawatt/hora, a energia elétrica pode ser vendida a R$ 500 e se você fizer substituição de diesel até mil reais. Então você tem um ganho muito grande quando vai para o combustível veicular ou para geração de energia elétrica”, explica.

Para Gardemann, outra grande vantagem é que é possível fazer a cogeração. “O interessante é que enquanto você gera energia elétrica, você não desperdiçou toda energia térmica, você pode ainda recuperar, pode fazer calor. O gás que escapa do motor sai a 500ºC. Então, você tem espaço para energia térmica, vapor…”. Explica que na produção de energia o motor perde 20% pra ineficiência interna, 40% vira energia elétrica (em motor de alta eficiência) e 40% em energia térmica.

CONSÓRCIO – Desde a última reunião do ano passado, o aproveitamento dos dejetos da mandioca para a produção de energia vem sendo debatido na ABAM. Discute-se, inclusive, a possibilidade de criação de um consórcio, condomínio ou cooperativa para a implantação de uma usina com aproveitamento dos dejetos de várias fecularias que estão próximas umas das outras.

Questionado se achava a ideia viável, Alessandro Gardemann foi taxativo: “é lógico”. E continuou: “o raio da logística de transporte tem que ser calculado caso a caso. Mas com certeza se associarem aqueles que estão próximos e ganharem escala, não só é possível como deveria ser feito. É preciso ver a capacidade de investimento, a capacidade de investir em tecnologia, a capacidade de negociação na venda da energia e do gás, mas acho que isso com certeza é uma bela de uma oportunidade”.

Para o presidente da ABiogás, a geração de energia pelas fecularias pode gerar um novo modelo de negócio. Pelas suas expectativas, a energia elétrica ou o gás veicular poderia ser um novo produto a ser comercializado por estas agroindústrias.

“Hoje pode vender energia elétrica, depois pode vender gás. Isto já está regulado, a pessoa pode vender gás num posto hoje, pode fazer um gasoduto de biogás e pode vender para a cidade, para as indústrias vizinhas. Isto é uma oportunidade gigantesca e talvez o terceiro ou o quarto produto da indústria de mandioca, como aconteceu na cana-de-açúcar. Na cana-de-açúcar (no início) era só açúcar, virou álcool, virou cogeração de energia e agora está virando biogás”, acrescenta Gardemann.

PAYBACK – De acordo com as estimativas do presidente, as usinas de biogás devem se pagar entre três e cinco anos, “lógico, desde que se invista em tecnologia, em eficiência. São investimentos altos e quando a gente fala disso (o payback) a gente fala de um biogás que a gente chama de uma nova geração de biogás, que é um gás eficiente, confiável, que garante qualidade e disponibilidade. Você tem que ter isso pra ter condições de o setor energético te receber. O setor energético sem garantia de qualidade e de confiabilidade não vai te receber e remunerar o que merece. Se não você vai ter que vender esse produto a base do preço de lenha. Tem que investir em processos, tem que investir na produção do biogás, transformar isso numa indústria”.

Há recursos disponíveis hoje para financiar a instalação de usinas com alta tecnologia. “Hoje, com certeza, o biogás está entre as prioridades do BNDES, BRDE e outras linhas”, garantiu ele, lembrando que o Brasil já dispõe de tecnologia de “bom nível. Hoje somos 72 associados na ABiogás, a cadeia inteira, então tem condição de você sair com o projeto bem definido”.

O presidente da Associação de Biogás esclarece que o sucesso de uma usina depende de um “bom projeto”, o que exige o trabalho de especialistas, porque “é uma tecnologia nova e tem muitos detalhes a serem observados”. No entanto, a partir daí, um não especialista, mas bem treinado, opera a usina, pois a manutenção são processos biológicos conhecidos no Brasil.

 

 

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