Fecularias podem implantar usina de energia elétrica a partir de resíduos

Publicado em 10 de dezembro de 2019

Capacidade do setor para combustível veicular
equivale a 12 mil litros de óleo diesel por dia

Resíduo-da-mandiocaOs resíduos produzidos pelas fecularias de mandioca estão sendo mal ou subutilizadas. O potencial desta biomassa é enorme. Para se ter uma ideia, se os resíduos destas agroindústrias fossem transformados em combustível veicular, seria o equivalente a produção de 12 mil litros de óleo diesel por dia.

A revelação foi feita durante a última reunião ordinária da Associação Brasileira de Produtores de Amido de Mandioca (ABAM) pelo consultor Gabriel de Souza Prado, da Clean Environment Brasil, uma empresa que fabrica e comercializa produtos, equipamentos e tecnologias para o meio-ambiente. Ele falou no encontro sobre soluções ambientais e energéticas aplicadas a fecularia.

Atualmente, a maioria das fecularias lança os resíduos da mandioca numa lagoa, que é coberta para reter o gás metano produzido com a decomposição da matéria. Este gás é queimado para aquecer as caldeiras dos secadores da indústria. Mas este biogás pode ser convertido para energia elétrica ou veicular também.

Depois de mostrar os números do setor, as formas de conversão e os equipamentos que ajudam na gestão deste potencial, Prado apresentou um mapa que demonstra alta concentração de fecularias nas regiões noroeste e oeste do Paraná e sul do Mato Grosso do Sul. Ele sugeriu a formação de condomínio, consórcio ou outra forma de associação para instalação de uma usina geradora de energia elétrica a partir da biomassa da mandioca.

“Pela posição geográfica das empresas, como as indústrias estão muito próximas, a ideia seria montar uma usina e juntar esse resíduo em uma única usina. Além do mais, a usina poderia receber resíduos de outras indústrias e, cobrar uma taxa por isso, agregando ainda mais valor”, disse o consultor. Seria outra fonte de renda. “O dejeto que outras indústrias não tinham mais destino, não tinham mais o que fazer, levam até a usina, que trata, transforma em gás, transforma em energia e ainda rentabiliza a empresa”.

Em outras palavras, é a máxima de transformar um passível ambiental num ativo econômico. “A beleza é justamente essa: de um passivo do meio ambiente faz-se dinheiro e uma forma de negócio. Então é fantástico. O apelo do biogás é esse: resolve vários problemas com uma única solução”, sentencia o consultor.

POTENCIAL GRANDE – De acordo com Prado, o potencial da matéria orgânica da mandioca é muito grande e é possível agregar muito valor em cima desse biogás. Ele lembra que se as agroindústrias, em vez de utilizar o produto como energia térmica, convertesse em GNV (Gás Natural Veicular), “o valor agregado seria muito maior, (…) rentabilizaria muito mais”.

Para passar a produzir GNV ou energia elétrica, as fecularias não precisariam, em princípio, aumentar seu processamento. As estimativas são de que o resíduo atualmente produzido pelas fecularias brasileiras pode gerar outras formas de energia e ainda usar para aquecer as caldeiras, ou até mesmo usar a energia elétrica produzida com o biogás para esta finalidade.

O consultor da Clean acredita que “se purificar o metano é possível usar na unidade e ainda ter excedente. O exemplo que dei na apresentação (aos associados da ABAM) foi em relação à geração de energia. (…). Então pode gerar energia e o que sobra do gerador de energia você produz o calor. Então você gerou duas energias, a elétrica e a térmica. Você conseguiu recuperar duas energias e utiliza-las sendo que antes você utilizava só uma”.

Prado não antecipou a necessidade dos investimentos para viabilizar esta usina de energia elétrica a partir dos dejetos da mandioca. “Depende do modelo de negócio e do tamanho da planta (industrial). Mas quanto maior uma planta, mais cedo ela se paga e mais rentável ela é ao longo dos anos. O investimento de uma usina para gerar energia elétrica é um pouco mais elevado (em relação a produção de energia térmica), só que com o tempo é o modelo de negócio mais sólido”, explica.

Sempre reforçando que o resíduo das fecularias de mandioca tem “um grande potencial” pelas suas características orgânicas, o representante da Clean citou que, convertida em GNV o resíduo da mandioca das fecularias do país, produziria algo equivalente a 12 mil litros de óleo diesel. “Esse é o potencial”, garante ele, asseverando que o produto poderia ser usado na frota das indústrias ou nos tratores usados no cultivo da mandioca. “Essa é uma das alternativas. Se chegar a acontecer uma crise como a da greve dos caminhoneiros, o setor terá autonomia para continuar trabalhando, plantando, colhendo da mesma maneira, porque terá uma flexibilidade maior em relação ao combustível, sem poluir”.

Para o processo de instalação da usina avançar é preciso detalhar “os números, ao pay back, o retorno do investimento. Mas é um potencial gigantesco. Acredito que é extremamente viável (a formação de um condomínio ou consórcio), se espelhando em outras plantas que já fizeram isso de maneira satisfatória, com resultados positivos”, diz.

O encontro despertou o interesse dos agroindustriais, que fizeram muitos questionamentos. O presidente da entidade, Valter de Moura Carloto, pioneiro na produção do gás metano para secagem da fécula, defendeu a sequência das conversas para avaliar a viabilidade da implantação da usina sugerida pelo consultor.

O diretor Ivo Pierin Júnior avaliou a reunião da última quinta-feira (05) como uma das mais relevantes dos últimos tempos, pois a discussão foi em torno de alternativas para reduzir os custos de produção. “Nós não temos poder sobre o mercado, mas temos condições de reduzir os custos de produção”, disse ele.

Gabriel Prado também gostou do resultado da reunião. “Extremamente positiva. Acredito que isso poderia ter acontecido até antes. O pessoal mostrou conhecimento e interesse em novas tecnologias. Estão famintos por informação, por tecnologia – isso mostra que o agronegócio não está parado, que o agronegócio está querendo investir, querendo se transformar, querendo evoluir. Isso é fantástico”, finalizou o consultor.

Na reunião foi definida a realização de uma rodada de negócios durante a Exposição Feira Agropecuária e Industrial de Paranavaí, em março. Na ocasião também poderá ser realizada um ciclo de palestra sobre o assunto.

 

 

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Indústria de Nova Esperança já gera energia

elétrica a partir dos resíduos da mandioca

A Amidos Pasquini, de Nova Esperança, já gera 20% de sua necessidade de energia elétrica a partir dos resíduos da mandioca. Segundo o diretor da empresa e da ABAM, Eduardo Pasquini, a energia elétrica gerada a partir do gás metano da lagoa instalada na empresa é de 200 kWh. Um motor Scânia, movido a gás metano, alimenta o gerador de energia elétrica

“E para o ano que vem estamos pensando num segundo motor, já que tem gás sobrando”, anuncia Pasquini, que ficou satisfeito com a reunião que tratou do assunto, especialmente da apresentação dos equipamentos, que avaliam a qualidade do biogás e que purifica o produto. A reunião, na sua avaliação, “foi ótima para todo mundo. A geração do biogás, os equipamentos que muita gente não tem conhecimento para ver a qualidade do gás, de purificação do gás. Tem muitas empresas fornecendo equipamentos, e tem gente que não tem conhecimento. A reunião trouxe informações para as empresas”.

Pasquini acredita na viabilidade de instalação de uma usina de energia elétrica a partir do processamento dos resíduos da fecularia. “Sim, é viável hoje. A questão do biogás foi trazida para a indústria de fécula, no início, para substituir a lenha, que era usada na secagem da fécula e hoje a gente viu que não é só isso, pode gerar energia e muitas outras coisas que pode gerar benefício para a empresa, além de continuar com a secagem, em substituição a lenha, que hoje as indústrias não queimam mais”, resumiu ele.

 

 

 

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