A Globo e a reação dos secos e molhados

Publicado em 04 de novembro de 2019

CondorO empresário Joanir Zonta anunciou neste fim de semana o cancelamento da publicidade que sua rede de supermercados, o Condor, paga para vender secos e molhados nos intervalos de programas jornalísticos nacionais retransmitidos pela RPC, afiliada da Globo no Paraná.

São atingidos pela medida os telejornais Bom Dia Brasil, Jornal Hoje e Jornal Nacional porque veiculam “notícias sensacionalistas, que só servem de especulação e municiam os que se opõem ao progresso do nosso Brasil”.

Segundo nota divulgada por Zonta, o cancelamento dos anúncios da rede poderá se estender a outros programas da Globo que atentem “contra os princípios e valores familiares” – o que significa que também desaparecerá dos intervalos das novelas a propaganda de ofertas do Condor, de carnes a sabão em pó.

O Condor segue a mesma receita de censura econômica anunciada pouco antes pela imobiliária Habitec, igualmente inconformada com “a posição que a Rede Globo vem tomando em diversos episódios de seu jornalismo”, conforme diz carta enviada pela empresa ao Departamento Comercial da RPC na última sexta-feira (1.º), assinada pelo diretor Rodrigo Vianna.

O estopim para a reação dos empresários foi a reportagem que o Jornal Nacional veiculou na terça-feira (29) dando conta da existência de dois depoimentos prestados à Polícia por um porteiro do condomínio Vivendas da Barra – onde o presidente Jair Bolsonaro tem casa – segundo o qual “seu Jair”, em contato pelo interfone, teria autorizado a visita de um dos suspeitos de participar do assassinato da vereadora Marielle Franco.

“Entendemos que em vista da franca recuperação econômica do nosso país – diz a nota dos supermercados Condor – a emissora não deve ser somente imparcial, mas também não deve dar publicidade a notícias sensacionalistas, que só servem de especulação e municiam os que se opõem ao progresso do nosso Brasil ou que deponham contra a instituição familiar.”

Seu proprietário, Joanir Zonta, teve seu nome muito citado pela imprensa nacional às vésperas da eleição presidencial, no ano passado. Ele foi um dos empresários que, ao lado de Luciano Hang, dono das Lojas Havan, fez campanha aberta em favor do candidato Jair Bolsonaro.

Na época, Zonta prometia pagar regularmente o 13.º salário e as férias aos trabalhadores das 48 lojas da rede e lhes pedia para confiarem “nele [Bolsonaro] e em mim para colocar o Brasil no rumo certo”.

O empresário foi chamado pela Justiça do Trabalho para explicar a insinuação de que não pagaria os benefícios se Bolsonaro fosse derrotado. Acabou assinando acordo para se livrar de uma multa de R$ 100 mil que lhe seria aplicada pela Justiça.

A história agora se repete: não mais ajudará a pagar o 13.º e as férias dos funcionários da RPC “até que a emissora assuma uma postura mais justa, de acordo com a vontade da maioria da população, que elegeu o nosso atual presidente, pois na era negra em que vivemos sob a administração petista a emissora não agia da mesma forma.”

Como diria Millôr Fernandes, “jornalismo é oposição; o resto é secos e molhados” – axioma com o qual não concordam adeptos de tendências totalitárias que, ao menor desgosto, costumam engendrar fórmulas de cercear a expressão do pensamento, a liberdade de imprensa imprensa e seus profissionais. E o fazem ora com censura, como ocorreu no passado durante o regime militar (especialmente a partir da edição do AI-5, em 1968, defendido pelo deputado Eduardo Bolsonaro), ou atualmente, quando (por enquanto) se busca o amordaçamento pela via do boicote econômico.

É o seguinte o teor do comunicado do Condor:

Em vista do posicionamento duvidoso da Rede Globo em relação à pessoa do nosso Presidente da República, comunico que hoje tomamos a decisão em nossa empresa de cancelar nossas inserções em todo o jornalismo nacional da emissora, isto é, Bom Dia Brasil, Jornal Hoje e Jornal Nacional, bem como de programas que vão contra os princípios e valores familiares.

Entendemos que em vista da franca recuperação econômica do nosso país, a emissora não deve ser somente imparcial, mas também não deve dar publicidade a notícias sensacionalistas, que só servem de especulação e municiam os que se opõem ao progresso do nosso Brasil ou que deponham contra a instituição familiar.

E essa será nossa posição, até que a emissora assuma uma postura mais justa, de acordo com a vontade da maioria da população, que elegeu o nosso atual presidente, pois na era negra em que vivemos sob a administração petista a emissora não agia da mesma forma.

do Contraponto

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