Verdade e Mentira – para todos os gostos

Publicado em 08 de abril de 2016

Todos sabem como a descoberta de uma mentira produz um sentimento desagradável, especialmente quando nós somos o mentiroso. Descobrir mentira dos outros nos dá uma sensação de poder, eleva à linha do horizonte (ou da cara do freguês) nosso dedo indicador com a maior das convicções: – Você mente! Você mentiu! Você é mentiroso! Quando se dá o contrário, porém, e somos pegos nela, todo o chão que nos cerca se torna pequeno para que nos enterremos de cabeça e alma. Ser pego na mentira dói; todavia, acredito que não exista alguém que não tenha passado um perrengue desse ao menos uma vez.
Dela a mentira, pois, nasce a vergonha. Ou em nós, ou no nosso interlocutor. E traz com ela a coloração vermelha acompanhada de sudorese e de um calor abrasador que nos perturba, sufoca e nos tira do sério. Assim está escrito nos maiores compêndios sobre a mentira.
Pois bem, o que é verdade e o que é mentira? Nesse rodopio de questionamentos, perguntas entram na nossa cabeça, rodam por ela como as motocicletas do globo da morte numa noite de sábado e não encontram a solução, porque o assunto é muito intrincado e, se nem entre os filósofos há consenso, como o será entre nós?
Sem entrar no que pensavam Nietzsche, René Descartes, São Tomás de Aquino, entre outros, que se debruçaram sóbrios ou evasivos alcoolizados sobre o tema e não chegaram à certeza absoluta de que a verdade seria um ponto de vista, uma propriedade, um critério, a relatividade personificada na certeza ou até exercício de matemática com a álgebra inclusa; ou, da mesma forma que a Mentira são afirmações ou negações falsas ditas por alguém que sabe (ou suspeita) de tal falsidade, e na maioria das vezes espera que seus ouvintes acreditem nos dizeres, o fato é que aprendemos desde cedo que mentir faz mal – para nós próprios que pecamos ao dizê-la e para os outros que se sentirão enganados quando descobrirem que acreditaram numa inverdade. Representa, pois, agressão ao padrão moral de muitas sociedades, pecado para algumas religiões e descrença para todos, sabendo que este sentimento é o estado daquele que não crê, o cético.
Dizem os mais sabidos que é mais fácil fazer as pessoas acreditarem numa grande mentira dita muitas vezes, – como “não vai ter golpe” – do que numa pequena verdade dita apenas uma vez pelo verdadeiro sem a mesma convicção do mentiroso. Exemplo disso vê-se diária e insistentemente repassado nos programas noticiosas falados, escritos, televisados e com mais voracidade em redes eletrônicas onde as mentiras nossas de cada dia… ganham espaço e voam atingindo a estratosfera.
– Tá, e daí? Perguntarão prepotentes os mentirosos de plantão que nos enxergam como otários, sabendo que suas mentiras repetidas à exaustão serão tidas, por boa parcela de bois de presépio (que tudo aceitam e aplaudem), como verdades. Chego a pensar que este será o século marcado com a inversão de valores, onde a verdade vira mentira e a mentira ganha status de verdade. A Lavajato que o diga. Os caras de pau do Congresso também; os demais poderes, idem.
A não se conter a horda de mentirosos que grassa no poder de todas as esferas, será de se acreditar que a mentira, como afirmou Nietzsche, não passará mesmo de um pequeno ponto de vista e que aquelas: vermelhidão e sudorese, hoje entendidas como vergonha, ganharão o nome de simples indisposição ou uma prisão de ventre.
por Renato Benvindo Frata

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