Harold D. Lasswell, um dos fundadores da psicologia política, analisando hábitos etílicos de políticos de sua terra, disse que “a consciência é a parte psíquica que se dissolve em álcool”. Ouso acrescentar, analisando o comportamento de alguns de nossos empresários no relacionamento com o Governo, que outro elemento capaz de dissolver a consciência com a mesma desenvoltura é o dinheiro fácil. Logo, álcool e dinheiro em excesso são perniciosos.
A soma do dinheiro desviado é descomunal, e chegava ao destino como resultado de acordos de geniais estratégias com o envolvimento de pessoas ligadas ao Poder. Armações fantásticas foram arquitetadas minuciosamente para o golpe.
Diante dessa balbúrdia em que se transformou nossa economia e o descalabro em que se meteu o Governo, cenas deprimentes são focadas pela televisão para o mundo ver: bem vestidos, vovôs de calvas grisalhas – entre 50 e 70 anos desfilam – cada qual em dia e lugar próprios – levados, mãos às costas, atadas por grossas algemas, resultado do “cair da casa” no jargão policial, – com as condenações do Mensalão, agora com o Petrolão e já, já com o Eletrolão e BNDES.
É de arrepiar. Seus cabelos brancos, símbolo da experiência de vida e da sabedoria que deveria ser exemplo para filhos e netos em biografias contundentes pelo sucesso cultural e patrimonial que amealharam, representam nesses momentos, velhice com dose de velhacagem.
Diante de tanta indignidade – da situação que criaram para o país em termos administrativos e de sustentabilidade governamental, – um sentimento misto de pena, pesar e repugnância se aflora; e nada há que fazer senão esperar pelo desfecho que está longe de chegar, pois a cada minuto surgem novas notícias ruins. Nesse vai da valsa que comanda o tempo, vem-me à memória o termo consciência enquanto percepção do moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais.
Chego a questionar se os homens de bem, envolvidos nesses escândalos, poderão ter se esquecido de se consultar com a consciência antes de usarem “mão de gato” no dinheiro, porque a regra moral é simples: a consciência é a almofada mais fofa para ser usada durante o sono restaurador. Mas, quando desprezada, se transforma em pedra-ferro de corte irregular, especialmente durante as tempestades: machuca, fere, magoa, cobra postura, acusa e passa na face do indivíduo uma película de vergonha. E de arrependimento.
Por falar em tempo ruim, é bom lembrar que “não existe testemunha mais terrível – ou acusador mais poderoso – que a consciência que habita em nós” . Ela gravita o travesseiro, apossa-se dele, transforma-o cimentando suas bordas, e o deixa deveras falante nas horas que deveria se calar, nas horas em que o silêncio da madrugada poderia ser o lenitivo dos malfeitos, já que esses vovôs são vítimas e vilões ao mesmo tempo. De achaques e de conluios.
Resta saber se têm eles discernimento de que “uma pessoa não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupada a fazer o errado em outra, pois a vida é indivisível” – como disse gandhi, porque o travesseiro que abriga os pensamentos assume o que dita a consciência, e consegue bombardear as horas de sono com a aspereza grosseira das palavras da razão.
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1 Sófocles.
Por: Renato Benvindo Frata
Belíssima crônica, Renato. Sou fã de seus escritos.
Diante de suas palavras no texto você acabou conduzindo-me à lembrança dos inesquecíveis “Velhinhos Transviados” da década de 60*… É o que, a meu ver, são esses ‘hóspedes” do iusmaestro Moro, que tem conseguido, antes de recebê-los na ‘hotelaria especial’, fazê-los cantar nos chuveiros de casa:
“De que vale o céu azul e o sol sempre a brilhar
Se você não vem e eu estou a lhe esperar
Só tenho você no meu pensamento
E a sua ausência é todo o meu tormento”…
Aí quando chegam os rapazes de preto da PF e batem às portas, tudo desafina sob os chuveiros dourados desses “Velhinhos Transviados” tão bem acomodados em Curitiba.
Parabéns pela crônica, e desculpe a brincadeira. Abs
* https://youtu.be/S_IxJCGAn6c
E pensar que há algum tempo, no tempo destes senhores, a riqueza de um homem era sua honra!
Caro Dr. Renato. O senhor está certo em sua reflexão. O significado de retidão, de honra, de dignidade e principalmente de cidadania foi banalizado. O mais triste é a convicção de que a maioria destes crápulas, inimigos da nação, vão continuar parasitando e sugando o sangue do trabalhador brasileiro, com o aval, pelo voto, e pela ignorância dos nossos irmãos descamisados, de roupas, de pão e principalmente de cultura.
E assim continuará até que os vomitemos de nossa vida pública!
ZECA DIRCEU VISITA O PAI NA CARCERAGEM DA PF EM CURITIBA. GLEISI HOFMANN E ENIO VERI, PROMETERAM UMA VISITA EM BREVE AO VELHO AMIGO