Vinte anos atrás aproximadamente, eu era repórter da sucursal de Paranavaí de um jornal de circulação estadual. Em razão do ofício, percorria toda a região e, quase sempre, passava pelas prefeituras. Era muito comum naquela época, os prefeitos terem sobre sua mesa um talão de autorização de compras em nome da prefeitura. Na antessala dos gabinetes dos prefeitos populares se amontoavam, uns em busca de remédios, outros de telhas, havia os que estavam em busca de passagem (ou mesmo combustível) para visitar parentes, muitos em busca de autorização para fazer uma compra no supermercado. Era assim que as pequenas cidades eram administradas e seus prefeitos se tornavam heróis.
Para se eleger bastava que o candidato fosse “bom de palanque” e tivesse um estilo bem populista. Daí era só se alojar no gabinete de prefeito, manter sempre sobre a mesa o tal bloco de autorização de compra e estava garantida a carreira política e a promoção a herói.
Os tempos são outros. Não há mais recursos financeiros e nem lei que ampare este tipo de comportamento assistencialista. E a população dá sinais claros de que não se deixa levar mais por discursos bonitos, com frases de efeito etc. e tal.
Assim sendo é possível vislumbrar o perfil dos futuros governantes, sejam eles prefeitos, governadores ou presidentes da República.
Cada vez mais estes governantes terão um perfil mais técnico. Terá a preferência do eleitor aqueles que, ao assumirem os compromissos de campanha, dirão exatamente de onde tirarão os recursos; que tiverem coragem de dizer quanto tempo demora uma licitação; e, no caso dos prefeitos, os que falarem claramente que serão necessários recursos do governo federal ou estadual para atender a demanda X ou Y.
Os candidatos a governantes terão que demonstrar que tem conhecimento de administração pública, principalmente de contabilidade pública; capacidade de liderar uma grande massa de servidores, entre os quais os que abusam da estabilidade empregatícia; e capacidade de gestão, agindo com austeridade para que os poucos recursos disponíveis sejam bem aplicados.
A administração pública vai se profissionalizar.
Mas estes não serão os únicos predicados que serão exigidos dos futuros administradores. Eles terão que demonstrar, ainda, capacidade de negociação, sobretudo com o Legislativo. Os tempos são outros e acabou a supremacia que havia do Executivo sobre o Legislativo.
Até pela valorização do Legislativo, candidatos às câmaras municipais, assembleia legislativa, Câmara Federal e Senado da República terão que apresentar ao eleitor um perfil muito próximo do que será exigido dos postulantes ao Executivo.
Em alguns países, os municípios adotam a figura do gerente de cidade, um profissional habilitado para fazer a gestão municipal. Ao prefeito cabe definir as diretrizes. E o gerente se responsabiliza pela forma de execução. Não está longe o tempo que o Brasil vai adotar este sistema, formal ou informalmente.
Apresentar-se ao eleitor como honesto e boas intenções será tão necessário nas eleições futuras como pente para carecas. Agora os postulantes a cargos eletivos terão que demonstrar que entendem do riscado.
Os tempos mudaram!
Jorge Roberto Pereira da Silva, jornalista
Secretário municipal de Comunicação Social
Artigo bem construido, demonstra sua opinião clara, humana e técnica, fazendo inteligente perfil de futuros postulantes ao cargo de Prefeito da nossa querida Paranavaí.
Textos assim, fazem-se entender a complexidade, com simplicidade prática/exeqüivel!!
Quem conhece o Jorge Roberto sabe da sua capacidade de escrever textos de excelente conteudo. Pegando um gancho de sua colocação quando disse que o tempo são outros e acabou a supremacia que havia no Executivo sobre o Legislativo. Acabou mesmo, pois aqui em nossa cidade, os atuais vereadores já não se curvam mais ao Executivo, como no passado recente, e em especial, quando se trata de matérias que não beneficiam a população. Os poderes são harmônicos e independentes entre sí, que significa literalmente vivamos em harmonia, mas cada um que faça a sua parte o melhor possível!
Traduzindo, “votar e aprovar só bondades e privilégios, a conta o Abreu paga”, muito bom.
“Para um bom entendedor, uma palavra basta!”
Mas consulta também não é assistencialismo? passar as pessoas no famoso fira fila chama como?
Chama-se crápula oportunista, pois rí da desgraça alheia! Mas por favor, diga que é o referido para que possamos tecer alguns comentários a respeito de sua conduta! Teremos um bom assunto para ser debatido sobre a ética e a moral na política, se é que trata-se de um.