Beto é contra impeachment de Dilma

Publicado em 20 de abril de 2015

O PSDB está dividido se deve ou não apoiar o movimento pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. O ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso j´pa se manifestou contrário. Os favoráveis são liderados pelo presidente nacional da sigla, Aécio Neves, derrotado nas últimas eleições presidenciais.
Em artigo publicado na última quinta-feira pela Revista Época, o governador Beto Richa (PSDB) também se manifesta contrário. “Impeachment é coisa séria. O fato gerador precisa ser incontestável. Coisa que até agora, convenhamos, não existe”.
Leia abaixo a íntegra do artigo de Beto Richa
Das ruas, emana a voz dos brasileiros. E o que eles dizem não pode ser ignorado nem por governantes nem por partidos políticos. Insuflada pelas revelações de desvios de conduta de agentes públicos e militantes partidários, a população emite sinais de impaciência e o desejo da condenação sumária. Como interpretar onde vai dar todo esse movimento, que se nutre com prisões e escândalos que beiram os bilhões de reais?
Primeiro, acredito que a mobilização da sociedade brasileira é autêntica, legítima, democrática e pacífica. Bem diferente dos desvios praticados por grupos isolados, em junho de 2013. E, por ser tudo isso, não se submete a qualquer cabresto partidário ou liderança preexistente.
As manifestações se repetem à revelia dos partidos – e é assim que devem continuar a ser. É uma marca dos novos tempos, onde todas as causas são compartilhadas nas redes sociais. Mas é notável que a necessidade de extravasar a opinião seja diretamente proporcional à gravidade dos fatos em apuração pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e pelo Judiciário.
Uma das propostas colocadas pelos manifestantes é justamente a do impeachment da presidente Dilma. O tema é delicado, ainda mais para a sempre jovem democracia brasileira. A sua simples discussão não significa que o processo tenha de ser aberto a qualquer custo.
Se for verdade que da discussão nasce a luz, então discuta-se. Mas ela deve ser racional, calcada em fatos concretos e objetivos. Não dá para fazer um debate apenas para iludir a nação ou como pretenso corolário de desvios de conduta que estão sob investigação. Ou para vingar os desmandos e desacertos da economia.
Impeachment é coisa séria. Tão séria que tem regras jurídicas claras. O fato gerador precisa ser incontestável. Coisa que, até agora, convenhamos, não existe.
É preciso investigar tudo, esclarecer todas as evidências, punir todos os culpados. Só assim a justiça será feita. O Brasil precisa de verdades que possam ser ditas sem constrangimentos. Fatos que possam nos orgulhar e nos convencer de que estamos, de fato, construindo uma nação civilizada e capaz de discutir todos os assuntos de forma equilibrada. Inclusive o impeachment.
A maioridade da democracia se forja nesses momentos de crise, em que a legitimidade dos eleitos é colocada em xeque. Ela se manifesta na aglomeração das multidões, que ocupam as ruas e as praças de forma espontânea. Sei que é difícil ter o necessário distanciamento da cena para compreender o verdadeiro sentido dos protestos. Mas também pode ser precipitado tomar partido apenas pela magnitude das concentrações.
Minha crença é que a voz das ruas é a voz da liberdade de expressão, do direito de reclamar, do desejo de punir os desvios de conduta, da decisão de mudar o presente e construir um futuro melhor para o Brasil. Algo que não passará despercebido por nenhum brasileiro.

Beto Richa (PSDB), engenheiro civil, é governador do Paraná

Alda - 391x69

2 comentários sobre “Beto é contra impeachment de Dilma

  1. Muito ponderado o posicionamento do Governador Beto. Particularmente, sob olhar absolutamente jurídico, e diante de tudo que está sendo divulgado pela mídia, notadamente acerca da Operação Lava-Jato e outras operações do tipo em andamento, também não vejo até o presente momento alguma prova objetiva, direta, que possa amparar um pedido de impeachment de Dilma a ser acolhido pelo Poder Judiciário.

    Embora boa parte dos ministros do STF tenha sido constitucionalmente nomeada pelo atual governo federal, também não fecho os olhos para o fato de que entre eles há alguns com maior competência técnica e doutrinária, e extremo poder de convencimento de seus pares por um voto xis ou ípsilon, como assim em muitas ocasiões de grandes julgamentos históricos já o demonstraram os ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Luiz Fux, Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski.

    Em meu entendimento não se está diante de oportunidade para pedido de impeachment, mas sim de a população em coro pedir à atual presidente sua RENÚNCIA.

    Ao contrário do que se imagina, longe de qualquer vaidade pessoal, esta seria uma honrosa saída política para ela, que assim demonstrará verdadeiramente que, enquanto brasileira, não deseja que o País continue a cada novo dia vendo sua economia afogando-se nos índices de inflação, no descrédito perante as grandes nações do mundo, tudo isso com reflexos diretos sobre a vida de cada brasileiro que, como eu, ainda assim renova o sonho por dias melhores para todos no país. Abs

  2. Fazendo coro com FHC e Serra, esvaziando Aécio, já dado como morto para 18. E também, por que se a tal ‘pedalada’ fiscal for motivo, o Requião Filho entra com o mesmo pedido aqui no outro dia…

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