E agora?

Publicado em 18 de março de 2015

Em 17 de dezembro de 1914, Ruy Barbosa cunhou uma de suas frases que se tornaria célebre e que, mais de um século depois, continua tão verdadeira. “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver se agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Foi uma justificativa de Ruy Barbosa a um requerimento apresentado ao Senado da República.
As manifestações do último domingo mostram que os brasileiros começam a se cansar de ver triunfar as nulidades, prosperar a desonra, crescer a injustiça e agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus.
Nunca é tarde para reagir e para indignar-se.
Mas, passadas as manifestações, a pergunta que se faz é: e agora?
A economia, com ou sem influência da crise internacional, requer ajustes e exige medidas impopulares. Nada de novo. O senador Aécio Neves, então candidato a presidente da República, já falava desta necessidade no ano passado. Talvez por isso, tenha perdido as eleições. Dilma Rousseff usou as palavras de Aécio contra ele e disse que não havia necessidade de medidas amargas. Talvez por isso, tenha ganhado as eleições. Mas fez exatamente o que Aécio disse que teria que ser feito, só que, como não falou a verdade, despertou a revolta e a indignação do povo brasileiro.
No campo político, ficou evidente a necessidade de uma reforma. O atual modelo se esgotou, é perverso e não agrada nem governo e nem oposição. A questão é ter coragem de propor, discutir e promover a reforma política, não de olho na próxima eleição, mas de forma a aperfeiçoar um sistema que fortaleça a democracia e garanta, de forma efetiva, eleições livres de influências do poder econômico.
No que se refere ao combate à corrupção, está claro que a Polícia Federal, o Ministério Público e o Judiciário estão atuando fortemente para punir corruptos, sejam eles políticos ou empresários. Mas aos políticos cabe a tarefa de criar leis que permitam investigações mais rápidas e punições mais severas para inibir esta prática danosa ao erário público, ou seja, o desvio do nosso dinheiro para enriquecimento de poucos, enquanto faltam recursos para a saúde e educação, por exemplo.
Mas, este quesito carece de uma observação: enquanto eleitores votarem em políticos que não tem sua atuação sustentada em valores morais e éticos, sempre haverá desonestos de olho na botija.
Mas, voltemos ao assunto: e agora?
As manifestações de renomados juristas deixam claro que não há sustentação legal para o impeachment da presidente Dilma, que tal atitude poderia ser uma violência contra a Constituição, etc., etc., etc. A possibilidade de uma intervenção militar é descartada pela maioria da população. O caminho não é por aí. Então, fazer o quê?

Das manifestações emergirão propostas claras e exequíveis. E os políticos, governistas e oposicionistas, devem ouvir o clamor das ruas e começar a trabalhar para que os ajustes econômicos sejam os menos dolorosos possível. Para que a reforma política se concretize e a corrupção não encontre mais solo tão fértil para prosperar como acontece atualmente.
É preciso inaugurar uma nova fase na vida brasileira. Uma fase em que os políticos demonstrem de forma clara – com ações – que estão preocupados com o País. De discurso o brasileiro está cansado.
É preciso agir para que as nulidades não triunfem mais, a desonra não prospere, a injustiça não cresça e o poder não caia nas mãos dos maus. O brasileiro não quer desanimar das virtudes, rir-se da honra e muito menos ter vergonha de ser honesto.
O momento exige diálogo, mas, sobretudo, ação.
Jorge Roberto Pereira da Silva
Jornalista
Secretário de Comunicação Social do Município de Paranavaí

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11 comentários sobre “E agora?

  1. Com esse artigo, agora descobri muitos outros assuntos que se parecem com esse aqui publicados, sendo assim vamos convir que… bem deixa prá lá!

  2. Irreparável o artigo. Os porta-vozes da Dilma, o ministro da Justiça e o secretário da presidência (status de ministro), Cardoso e Rosseto, deveriam ler Jorge Roberto. Não trombariam as cabeças como o fizeram ao falarem sobre o movimento do histórico 15 de março.

  3. Parreiras, o sr.deve estar brincando (depois da idade) pois mandar ler esse artigo, é o mesmo que mandar copiar o que dizem outros blogs por esse Brasil afora…

    • Permita-me discordar de sua opinião; o Poeta-Verde, Parreiras, está certo mesmo.

      Os ministros citados, quando da fala na tevê no domingo, de tão inseguros que estavam porque era missão intragável – ocultar o evidente, o óbvio, a monstruosa crise -, pareceram-me dois peões neófitos mandados pelo patrão boiadeiro para, representando o ferro da fazenda, montarem no famoso touro bravo na arena do imenso parque.

      Nervosíssimos, nem se deram conta de que montaram de cara para trás nos argumentos usados, e depois, por isso assustados já que não viram a cabeça nem o cupim do touro, não suportaram sequer dois dos oito segundos necessários ao lombo do bicho; eles conseguiram cair assim mesmo, e olha que o animal apenas se movimentou um pouco, hem? Nem pulou ainda… Abs

      P.S.: levemos essa vida breve com um pouco de bom humor; ninguém aguenta tanta sisudez e seriedade.

  4. E agora? Boa pergunta. Devolvo perguntando. O articulista votou na Dilma? O Patrão votou! Vou responder. Se votou na Dilma se ta ferrado. Se não votou se ta ferrado do mesmo jeito, apenas com a consciência aliviada…

  5. Caro Jornalista.
    Do ponto de vista literário, sua crônica foi muito bem redigida. Do ponto de vista cívico, deveria ser adotada como referência, pois nos remete, enquanto brasileiros conscientes de seu papel social e de sua responsabilidade com a Pátria, à uma reflexão séria, profunda e necessária a respeito do delicado momento pelo qual atravessa o nosso País. A moderação, a ponderação, a cautela, sempre teve lugar de honra na história da humanidade.
    Parabém Jorge Roberto!

  6. Clamor das ruas? Ou o clamor dos derrotados na eleição que insistem em continuar nos palanques? Pelo que as pesquisas mostram sobre o domingo, são estes que estão nas ruas… O que uma única olhada nas fotos de Paranavaí não desmentem… O Povo não foi às ruas. Não ainda… Quando o for, talvez alguns se surpreendam com o resultado…

    • Concordo com vc… povo é uma coisa… burguesia outra coisa… quando o povo for as ruas as coisas vão feder!!! com certeza!!!

    • isso não pode ser um professor?!?!?!
      deve ser um fake.
      onde o datafolha, o trem mais ptista que tem no mundo da 13% para dilma, se deram 13% não passa de 5% de aprovação, vem um ptralha que fala que é ¨professor¨, dizer que aquilo não é o povo.
      podemos salga esse país.
      se isso for mesmo ¨professor¨coitados dos alunos.
      CRUZ CREDO.

  7. Notadamente, alguns Escritores, de forma eficaz, produzem textos com entendimento coletivo, como se estivesse escrevendo, particularmente para mim, ou você, em especial. Eles são, a exemplo de Jorge Roberto que nos deu aula nessa Crônica, VERDADEIROS AUTORES, feito também, Parreiras Rodrigues, José Roberto Balestra e alguns poucos.

    Eles ensinam Cidadania (ou o resgate dela) sem ódios ou conversas tendênciosas, nem a aplicação política do famoso Q.I.

    O sucesso de um Político não se faz só pelas obras públicas que ele consegue realizar, mas com a transparência de também reconhecer onde tentou e não conseguiu.

    A serenidade de transpor as ondas de tempestade que miram nosso Povo, agora, são importantíssimas. Vale nossa Vida.

    Ainda hoje, somos governados na esfera federal, pela soberba, ganância, mentira e desrespeito e mesmo com a Nau das Farras, dando ÁGUA À BOMBORDO, ESTIBORDO, PROA E PÔPA, ainda, ” eles, Mandatarios, mandam que nos sentemos, pois o leão que fugiu do Circo DELES MESMO É MANSINHO…..”

    Como humilde cidadão de Paranavaí, eu agradeço por mais esta clara aula do Jornalista Jorge Roberto!!

  8. Como sempre, fugindo do assunto Oliveira… Tua covardia é notória… Sugiro que pegue as mesmas fontes da pesquisa de confiança, que fizeste questão de publicar (lembrando que o ‘saudoso’ FHC também teve seus treze por cento), e olhe as pesquisas feitas sobre o perfil do público das manifestações em todas as capitais…

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