Síndrome de Estocolmo

Publicado em 11 de março de 2015

“BURACOS NO CHÃO… AEDES? EXTERMINA NÃO!
SINTA A FALTA QUE FARÃO. MUITA CHUVA, É ELA O BODE DA EXPIAÇÃO.”
Aprendi a gostar do cultivo dos buracos e dos mosquitões da dengue aqui em PARANAVAÍ.
Está chovendo demais, gente! Culpa dessas enxurradas que levam a manta de asfalto de dar inveja às rodovias europeias. Nosso asfalto aguenta geada, furacão, maremoto, mas enxurrada não! Não tem jeito nem engenheiro, quiçá construtora, que dê solução.
Mas olhem o lado positivo dos buracos. Acabar com os buracos das ruas de nossa cidade vai gerar muitos traumas. Eles já estão incorporados ao cotidiano do povo paranavaiense; são entes queridos. Deixem falar a voz do coração, povo ingrato!!!!
Dizem que somos “mulheres de malandro”, que quanto mais batem mais nos afeiçoamos. Tem aí um fundo de verdade: de tanto perder pneus, rodas, torcer o pé, manquitolar, cair, ralar, e infortúnios mil, aprendi a gostar dos buracos da rua, sabia?
Vai ser duro viver sem eles. Tem um aqui em frente de casa que minha filha já o chama de “tchutchuquinho”. Se ele desaparecer da noite para o dia, vou ter trabalho. Terei que levá-la ao divã de um analista. Ela convive com ele desde pequenininho, e cansou de esconder nele o Fila Brasileiro e o Dogue Alemão que, depois de velhos, deram para brincar de peteca com os agentes da dengue que entram no quintal, procurando criadouros das “seringas voadoras” e outros bichos que só vem por causa da chuvarada. O povo colabora.
Se não fosse esta maldita chuvarada também não teríamos problemas com o tal do Aed. Sim, de tão grandes que estão os “Aedes ægypt” aqui em Paranavaí, mais parecem seringas voadoras. Tem uns que trazem até “garrote”, aquele elástico de prender a circulação sanguínea, que é para facilitar a chupada de sangue. Mas voltemos aos sentimentos de minha filha.
Temo que ela não consiga superar a perda repentina desse amigo de infância, o buraco no asfalto em frente de casa. E o pior. Mesmo bancando o machão, acho que eu também, porque já estou em dúvida se quero que a usina de asfalto ou essas empreiteiras realmente funcionem e acabem com os buracos da minha rua.
Para não agravar a crise, acho que vou procurar o Gestor da cidade, e no tangente a tal usina, convidá-lo a “discutir a relação”. Já estamos famosos mesmo, e até saímos na mídia em rede nacional. Tem gente até brincando de casinha dentro dos buracos das ruas, como saiu no jornal na caixinha de fazer louco. Vou falar com o Gestor então, mas não levarei faixas ou coisas do gênero. Também não vou dia 15… Fique tranquilo! Vou dizer a ele que aprendi a gostar dos nossos buracos. E vocês? Revisem os conceitos, discutam também a relação.
Bem, papo gordo agora: buracos no asfalto vão existir sempre. Deve ser cobrado sim. Afinal incomoda, estraga e pagamos impostos para que sejam arrumados. Mas vamos também fiscalizar a saúde, a educação, o poder legislativo e outras necessidades da urbe. O poder legislativo dorme em berço esplêndido. Acordemos essa criança povo! E atentem-se, porque vem ai mais sete (7).
Bom, este já é um baita assunto para a próxima discussão.

Alda - 391x69

4 comentários sobre “Síndrome de Estocolmo

  1. Old, parece que esse nosso torrão natal aí tem de fato essa sina com a buraculosidade, né? Tenho acompanhado; entra prefeito e sai prefeito e vem outro prefeito, e a “riqueza buracológica” continua aí, firme, já folclorizando!

    Mas como sou da era do império dos areões na cidade, já que asfalto só havia no miolo, aí no centrinho mesmo e a gente só andava era de bicicleta (tenho minha Monark Brasiliana 64-HM até hoje…), ah, meu amigo, aquele tempo tínhamos eram os “buracões”, e a bangu!

    Era no Jd. São Jorge, no Jd. Canadá ladeando a Operária, no final da Piauí, onde, de tão pequeno, foi possível até erguer o estádio dentro dele, e assim buraco em asfalto não chamava atenção da gente.

    Certamente porque não havia deles como hoje, já que as poucas ruas asfaltadas eram de fato asfaltadas, com solo-cimento grosso, de primeira, tudo bem socado e ressocado, e manta asfáltica porreta de grossa por conta do piche de primeira nas britas graúdas e nas miúdas. Hoje…

    Portanto, Old, a cada época o seu devido folclore. Quem sabe um dia não aparece alguém para dar fim também nesse já folclórico buraculosismo surucuano, que começou com os famosos buracões – mas sem dengue, porque na Natureza tudo é regrado certinho; tínhamos nas noites de verão é muitos besouros cavalares, bicudões duplamente, baratões enormes, enfim, havia de todo tipo -, e agora já são apenas meros buracos, embora um pouco mais “insistentes” na sobrevivência companheira. Porque será, hem? (rsrs)

    Parabéns pelo artigo! Como vê, me diverti bastante. Ninguém aguenta levar a vida breve tão a sério. Abs

  2. Tai gostei.um comentário inteligente e humorado que me fez reflir sobre a minha responsabilidade e a do setor público sobre os buracos e a dengue.

  3. Prezado Old. Excelente artigo!
    Só técnico pode emitir juízo de valor sobre assunto. Mas dizem que as experiências empíricas também reportam ao conhecimento.
    Não poderíamos eleger a qualidade em detrimento da quantidade? Pelo menos não estaríamos reclamando do indigitado após a próxima chuva.
    O PAC que deveria vir com o asfalto e o carnê para pagamento, já está vindo com um complemento a mais: O buraco!
    Talvez seja uma inovação aparecer morador dentro de buraco na televisão. A nós resta a desilusão! Qual a solução?
    Com a palavra: a população. Quando? Na próxima eleição!
    Ary

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.