Estamos construindo um Brasil melhor

Publicado em 04 de março de 2015

Não, o título do artigo não está errado. Tão pouco seu autor desconhece que estamos enfrentando uma crise econômica e política – talvez a mais grave dos últimos anos.
A insatisfação é grande: caminhoneiros bloqueiam estradas pela redução no preço do pedágio e do óleo diesel, pelo aumento no valor do frete e a sanção de mudanças na legislação (já ocorrida) que flexibiliza a jornada de trabalho; servidores estaduais acampam em frente a Assembléia Legislativa para não perder direitos; a população não suporta o aumento de preço dos combustíveis, da energia elétrica, do ICMS, do IPVA; nossos irmãos paulistas enfrentam falta de água por falta de investimentos e de sensibilidade dos governantes e, principalmente, a indignação é imensurável com as quadrilhas que se instalaram nos poderes, sendo a “descoberta mais recente” a que atuava na Petrobrás.
Com tudo isso, estamos construindo um país melhor?
Sim. Retornemos alguns anos atrás nesta história que é escrita diariamente por quase 200 milhões de brasileiros.
Os historiadores consideram que em 15 de janeiro de 1985, com a eleição, ainda que indireta, de Tancredo Neves para a presidência da República, findou o período da ditadura militar, instalada no Brasil a partir de 1964. Durante 21 anos, a voz do povo foi sufocada, movimentos reivindicatórios eram reprimidos com violência, seus líderes presos ou até mortos.
Em 1988, apesar de oficialmente os militares terem retornado à caserna, desconfiava-se que a “Constituição Cidadã”, como ficou conhecida a Carta Magna, não seria promulgada, devido aos “avanços” nelas contidas.
Os anos se passaram e o Brasil avançou em todos os setores. Não há como negar.
Sobre a corrupção, se tivéssemos que assinalar um marco para sua institucionalização no país, certamente seria a chegada da família real portuguesa ao Brasil, como demonstra de forma irretocável o jornalista Laurentino Gomes em sua trilogia 1808, 1822 e 1889. É triste registrar que se rouba do poder público no Brasil há mais de 200 anos.
Se olharmos para um passado recente, coisa de 15 ou 20 anos, vamos perceber que jamais se acreditaria que um presidente da República fosse apeado do poder sem que um único tiro fosse disparado ou que um torneiro mecânico seria eleito presidente da República. Coisas da democracia.Também seria difícil imaginar que pelas redes sociais, milhares de pessoas tratariam de um ato pelo impeachment da síndica do Palácio do Planalto sem ser molestadas ou que no Paraná professores e outros servidores públicos acampariam em frente Palácio Iguaçu para garantir seus direitos.
Seria inimaginável, cinco anos atrás, que líderes do partido que está no poder fossem parar atrás das grades por atos de corrupção. Dois anos atrás, qualquer brasileiro que ousasse dizer que empreiteiros corruptos irão para a cadeia seria certamente motivo de piada. A cada dia, a expressão “no Brasil tudo acaba em pizza” perde força. Nem mesmo os membros do até então intocável Poder Judiciário são poupados quando ferem regras de conduta. Como me disse um amigo recentemente, caminhamos para trocar a expressão “sabe com quem está falando” para “quem você pensa que é?”.
Nunca os políticos se borraram todo, como agora, temendo investigações.
A imprensa é livre, os investimentos em educação são crescentes e os resultados já começam a aparecer (fico especialmente feliz quando noto que mais jovens estão ingressando na universidade, o que era privilégio de poucos até alguns anos atrás), a miséria absoluta diminui no país.
A saúde é a área que precisa com mais urgência de investimentos. Mas, ainda assim, alguns indicadores, como a redução da mortalidade infantil e o aumento da expectativa de vida, demonstram avanços, ainda que insuficientes para qualquer comemoração.
A segurança também precisa de investimentos, mas hoje é melhor. Temos mais policiais, os órgãos de segurança estão mais bem aparelhados e, pasmem, a polícia é menos violenta. Antes, as agressões policiais simplesmente eram jogadas para baixo do tapete, dando a falsa impressão que não havia violência policial, pois elas não apareciam nas estatísticas, assim como foi com os casos de corrupção.
Na economia preocupa-se hoje com uma inflação de 7,5% ao ano, que está fora da meta dos 4,5% e acima do teto de 6,5% considerado como tolerável. Em março de 1990 a inflação alcançou o recorde 84,23% ao mês e um índice acumulado nos doze meses anteriores de 4.853,90%. Apesar dos pesares, estamos longe, muito longe, daquele sóbrio período que ficou conhecido pelos economistas como a “década perdida” pelo inexpressivo crescimento econômico entre 1980 e 1990.
A economia vai melhorar? Não tenho dúvidas. A Petrobrás vai se recuperar? Com certeza. A corrupção vai diminuir? Claro que vai. Os políticos serão depurados? Sim, desde que o brasileiro assim queira.
Otimismo? Nada disso. É que o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal estão mais fortalecidos. O brasileiro sai às ruas em busca de seus direitos. A imprensa está mais investigativa. E os governantes sabem que o eleitor está cada vez menos ingênuo e não se satisfaz mais com pão e circo, agora quer a verdadeira cidadania.
Assim, esta associação de fatores permite vislumbrar um futuro melhor, que nós, brasileiros, estamos construindo, com percalços aqui e acolá, mas nunca desistindo.
Jorge Roberto Pereira da Silva
Jornalista
Secretário de Comunicação Social do Município de Paranavaí

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3 comentários sobre “Estamos construindo um Brasil melhor

  1. De construtiva leitura, essa Crônica nos leva à reflexão.

    Parabéns pelo Artigo, Jornalista Jorge Roberto!!

  2. Disseste muito bem Velho Gagá. Nestes tempos de turbulência política e social a moderação é receita de sabedoria.
    Parabéns Jorge

  3. Como ninguém é perfeito. O jornalista esqueceu de complementar a frase em que cita que a população não suporta o aumento de preço dos combustíveis, do ICMS, do IPVA….e tampouco os aumentos do IPTU e ITBI que estão no ajuste fiscal encaminhado pelo prefeito Rogério à Câmara. Temos que reverenciá-los 24 horas por dia, pela incompetência ao lidar com a administração pública.

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