Josias de Souza
O asfalto forneceu as informações. E Jair Bolsonaro tirou suas próprias confusões. O capitão obteve das ruas um respaldo sólido o bastante para espantar a assombração de um impeachment precoce. Mas o meio-fio não lhe deu musculatura suficiente para emparedar o Congresso. Ao contrário, na comparação com o protesto estudantil de 15 de maio, os atos deste domingo revelaram-se menores. As conclusões são óbvias: A conjuntura continua envenenada. E não há melhor antídoto do que a saliva. Entretanto, tomado por suas confusões, Bolsonaro planeja continuar trafegando na contramão. Em entrevista à Record, sua emissora predileta, Bolsonaro soou como se considerasse um crime dialogar. Referin.
O Legislativo existe para abrigar os conflitos. Contém ao mesmo tempo uma coisa e o seu contrário. Abriga parlamentares que perseguem um determinado objetivo e outros que defendem o oposto. Se compreendesse essa lógica, Bolsonaro talvez percebesse que sua Presidência seria menos atribulada se tentasse convencer pelo diálogo em vez de imaginar que pode prevalecer aos solavancos.
As confusões que Bolsonaro tira das ruas estimulam conclusões pouco animadoras. Fica-se com a sensação de que o presidente supervaloriza o “Messias” que carrega no sobrenome. Se Deus pudesse escolher um lugar para morar, a despeito da instabilidade, esse lugar seria o Brasil. Como não pode, Bolsonaro imagina ter plenas condições de representá-lo. Falta convencer o pedaço do Congresso que enxergou nas ruas deste domingo evidências de que o “messias” do Planalto nunca esteve tão sujeito à condição humana.