Pasmem, um músico leva o Nobel!

Publicado em 14 de outubro de 2016

No final do mês passado (25.09) comentei um artigo do jornalista Mário Sabino, do site “O Antagonista”, intitulado “CONTRA O TAMBOR”, publicado pelo blog de nosso amigo Joaquim de Paula.
Lá o jornalista, que é autor de quatro ou cinco romances traduzidos em vários países, se dizia entusiasmado com o fim do ensino obrigatório de “Artes” e “Educação artística” nas escolas do Brasil. E aí, no embalo de sua acidez ele já desconjurava a arte do pintor, escultor e serígrafo recifense Romero Britto, radicado nos EUA desde 1988, festejadíssimo pelas celebridades americanas. E dentre outros sacrilégios azedos dizia Mário Sabino que o fim da disciplina de “Artes” evitaria que surgissem outros adolescentes “Romeros Brittos”, mas que, entretanto, poderia aumentar o número de adolescentes ritmistas, já que “na falta de museus, orquestras e livros, aos professores de “Artes” resta o tambor.” Por fim confessava ele que detesta tambor e batucada; entende que Arte é uma coisa e Literatura outra. Que equívoco!
Oras, para quem feito eu, ainda jovenzinho, no Colégio Estadual de Paranavaí foi aluno da disciplina de “Educação artística” do inesquecível e saudoso Professor de Música, Carlo Cagnani, e sob essa deliciosa influência me tornei músico (violão, guitarra e baixo), inclusive profissional por alguns anos, claro que ao ler tamanha disparatada não poderia me conter mesmo. Dei-lhe réplica! Se ele leu ou não meu comentário isto não vem ao caso, porque nem sou jornalista e nem tenho obrigação de me fazer lido. Apenas exerço meu sagrado direito de opinião, sem que isso me seja ofício.
Lembrei-o de que se ele é jornalista e possui alguns romances editados, é porque é escritor. Logo, se tem quedas para a LITERATURA, certamente que isto lhe fora estimulado nos primeiros anos dos bancos escolares. Porém, aprece que disso se esquecera agora, ou seja, que a literatura também é uma FORMA DE ARTE, em regra despertada nos jovens através do ensino regular das disciplinas de Artes e Educação Artística, porquanto são ambas as disciplinas a expressão da subjetividade humana na produção consciente de FORMAS que concretizam um ideal de beleza e harmonia.
Pois bem. Não serei modesto. Seria falso primeiramente comigo; Mário Sabino errou feio em seu artigo “CONTRA O TAMBOR”. A prova mais incisiva de que a LITERATURA não se cinge apenas aos livros de romances, de contos ou poesias, mas abarca também e inclusive as letras das músicas, fica agora mais clara pelo fato da outorga do PRÊMIO NOBEL 2016 DE LITERATURA na quinta-feira (13.10) ao conhecidíssimo cantor e compositor norte-americano BOB DYLAN (Robert Allen Zimmerman), que, aliás, escreveu apenas três livros em sua vida.
Está aí o fato. Modernamente a estética da LITERATURA adentra cada vez mais por territórios antes tidos por inóspitos, como é o do mundo da composição musical, onde nascem as letras magistralmente escritas por Bob Dylan, que trazem poesias para serem cantadas, mas que muito bem podem ser lidas com igual efeito de beleza porque criadas com rigor técnico de rimas e refrãos que em sua narrativa conseguem construir com precisão na mente do fã ou leitor as imagens líricas que brotaram no compositor no instante da criação de cada poesia, sejam elas políticas, de protesto ou não.
O vanguardismo na visão da Academia Sueca para a atribuição – merecidíssima! – do Prêmio Nobel de Literatura 2016 aos 75 anos de BOB DYLAN realmente deixou boquiabertos os eternos conservadores do mundo intelectual e das artes, mas não nós os músicos e demais amantes de todos os gêneros de arte, simples mortais comuns que não nos contentamos em apenas gostar de artes e música; a elas, tal qual Dylan, dedicamos senão toda, mas boa parte de nossas vidas. E tudo isto graças ao incentivo que, como eu disse acima, recebemos nas tardes quentes de verão ou nas manhãs dos invernos durante as inesquecíveis aulas de Arte e Educação Artística. É. A vida roda enquanto a fila anda, porque a dor da poda pela argila sobre o broto abranda…
por Zé Roberto Balestra

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2 comentários sobre “Pasmem, um músico leva o Nobel!

  1. Pingback: Comentário assinado pelo n/amigo Dr.Balestra | Joaquim de Paula

  2. Este reconhecimento da Academia Sueca a Bob Dylan faz justiça e “lava a alma” de milhões de poetas/compositores musicais e o melhor: proíbe, pra sempre, sua discriminação pelos “donos da literatura” mundial.
    Parabéns pela brilhante reflexão!

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