Redução da maioridade penal resolve? Eis a questão!

Publicado em 07 de abril de 2015

É extremamente polêmico e palpitante o tema. Tornou-se recorrente que em muitos dos crimes cometidos em nossa sociedade, há o envolvimento de menores de 18 (dezoito anos). E o que é ainda mais sério, o crime organizado vem capitaneando os menores para seus intentos delitivos. A comunidade política e jurídica vem divergindo sob o tema, deixando o assunto à deriva. Não há o devido enfrentamento da causa do problema. Discutem apenas os seus efeitos.
Pois bem! Seria realmente a redução da maioridade penal a solução do problema? Esta questão não se limita apenas a ser contra ou a favor. É preciso uma reflexão mais aprofundada.
De um lado, a tutela jurídica através do Estatuto da Criança e do Adolescente propõe amparar os menores de 18 anos, sob o rótulo de inimputáveis, traduzindo o argumento hermenêutico de que os menores não tem Juízo pleno dos atos ilícitos perpetrados contra a sociedade.
Doutro lado, a sociedade não aguenta mais ver os índices de crimes cometidos por menores aumentando, sem que haja uma efetiva resposta do estado.
Não me refiro neste artigo, por óbvio, aos crimes de baixo potencial ofensivo, resultantes das mazelas sociais construídas a partir de nossa própria desordem política e econômica. Efetivamente, o que assusta e preocupa são os crimes hediondos, praticados contra a vida, tais como, homicídios, sequestros com morte, latrocínio, tráfico de entorpecentes etc.
Poderíamos tomar como exemplo a recente trágica morte do empresário Paranavaiense, cujas investigações apontam pela possível participação direta de um menor, que acabou de sair do Cense (Centro de Socioeducação). É esse tipo de delito, que nos causa perplexidade e revolta.
A argumentação de que este tipo de crime representa uma ínfima parcela das estatísticas não convence. Crime é crime!
Já tive a oportunidade de exarar artigo em relação a incapacidade estrutural do estado em abrigar os delinquentes maiores. De lá pra cá, nada mudou. Como então, abrigaríamos tantos menores em condições tão precárias?
É fato que o caráter pedagógico da pena não passa apenas de filosofia acadêmica. Não há outro caminho senão o investimento em processo educacional como prevenção. A situação se torna ainda mais grave pelo falso discurso moralista que adolescente não pode estudar e trabalhar. Ficar na rua pode. Absurdo! Como se o trabalho digno não fosse fator decisivo na formação da própria personalidade e cidadania.
É muito superficial a discussão que se assiste atualmente sobre a redução da maioridade penal, limitando-se a indagar se o menor de dezoito anos não possui maturidade suficiente para responder pelos seus atos? É lógico que tem!! Mas a solução está em jogá-lo em uma penitenciária para que ele saia pior do que entrou? É claro que não!
Portanto, uma solução estaria não só no aumento do tempo das medidas socioeducativas, passando de 3 anos para 8 anos, ou até o completo restabelecimento psicossocial do infrator, com escolas técnicas, mas sobretudo, que hajam instrumentos de efetivo controle de eficácia da medida judicialmente imposta.
Este controle de eficácia da medida é indispensável. O próprio Conselho Nacional de Justiça apontou falhas no controle das medidas socioeducativas. Pois, apenas em 5% dos quase 15.000 processos de adolescentes infratores havia informações sobre o Plano Individual de Atendimento (PIA), que oportunizaria uma efetiva observação do funcionamento das medidas impostas e o desenvolvimento do menor.
Em recente participação com meu filho, em uma ONG denominada (Teto Brasil), na construção de casas emergenciais, conhecemos uma família em São Paulo, onde o Pai desempregado, a mãe com 7(sete) filhos, trabalhava em serviços eventuais. E lá estavam os filhos, jogados na “Comunidade Tribo”, leia-se, favela, em situação de extrema pobreza, sem qualquer cuidado, brincando no esgoto a céu aberto e com fome. Pergunto. O que esperar dessas crianças? É óbvio que não poderemos generalizar que todas elas se tornarão delinquentes. Mas não tenho dúvidas, que a sorte e o infortúnio já está ditando o destino dessas crianças.
Não se pode abstrair da circunstância, que a sociedade muitas vezes quer resposta rápida, mas não dá sua parcela de contribuição. Não dá oportunidade a esses jovens. É preciso engajamento de todos na luta contra a criminalidade. A prevenção ainda é o melhor remédio. O processo educacional de qualidade, a oportunidade livre ao trabalho a partir dos 14 anos com a redução da maioridade ao trabalho lícito, o contraturno nas escolas, a abertura dos estádios a toda comunidade para o desfrute de práticas desportivas com monitores. Enfim, são muitas medidas a serem tomadas para a necessária prevenção.
Por fim, é forçoso reconhecer que a punição pura e simples, com a adoção de penas mais severas não gerará diminuição da incidência da violência no Brasil. O que precisamos, verdadeiramente, é amplificarmos a compreensão sociológica dos crimes praticados pelos adolescentes, atacando as causas do problema e não apenas os efeitos. Esta tarefa não cabe apenas ao poder público, mas a toda sociedade. O processo de formação dos jovens passa inicialmente pela estruturação familiar, pelo diálogo, pelo carinho fraternal, pela orientação dos pais, pelo processo educacional de qualidade, pela prevenção às drogas, pela oportunidade a um trabalho digno, pelas práticas desportivas dentre outras. Em suma, é tirar os jovens da rua e qualificá-los como verdadeiros cidadãos. Vamos pensar nisso e fazer a nossa parte!
Ary Bracarense Costa Júnior
OAB/PR 18.553

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6 comentários sobre “Redução da maioridade penal resolve? Eis a questão!

  1. Olá Dr.
    Primeiro gostaria de parabenizá-lo pelo artigo. Realmente me fez pensar e repensar muitas das opiniões que tinha em relação sobre a maioridade penal.
    Concordo quando aduz que o problema não será resolvido em situações precárias e, concordo ainda mais na questão de um menor entrar e uma penitenciária e sair pior do que estava! Do que adiantaria colocá-lo em um local, digamos, com um adulto que já tenha matado 15 e um menor que tenha matado 2. Ok, crime é crime, medidas corretas devem ser tomadas, mas, além das condições do Estado estar um verdadeiro caos, pois isso é fato, a família também envolve muito em casos de menores infratores! Fui criada de uma forma que qualquer coisa errada era cintada na bunda, tapa da boca, e não morri por isso, não deixei de amar meus pais por isso. Se concorda comigo não sei, mas, a solução seria uma maior atenção do governo, só que também sobretudo, o incentivo da família em educar seus filhos a serem pessoas boas. Li uma reportagem dia desses que um menino passou em primeiro lugar no vestibular com livros que sua mãe pegava do lixo! Então, coisas assim mostram que não apenas o governo dar auxílio (se eles não dão estrutura o suficiente), pois ele não conseguia vagas, só que mesmo assim, sua mãe não o deixou sem estudos. Prova que, o tapete de tudo é a família!

  2. Os verdadeiros bandidos vestem terno e estão dentro do Congresso Nacional. E tem muito mais que 18 anos. É irônico que um Congresso liderado por Eduardo Cunha e Renan Calheiros, ambos do PMDB, façam discursos contra uma suposta impunidade dos menores.

  3. Apesar de que muitos afirmam que os jovens contemporâneos têm consciência de que não podem ser presos e punidos como adultos, incentivando-os a continuar a cometerem mais crimes; alimentando a caldeira da violência com o combustível da impunidade, eu sou contra. Vamos observar a nossa carta magna em seu artigo 228. Mais sucinto não poderia ser quando objeta: “São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos”; não que a mudança deste artigo será inconstitucional se vier a ocorrer, mas irá ferir uma clausula pétrea do nosso ordenamento mor. E os deputados e senadores poderão ou terão peito para modificar?
    A meu ver, A inclusão de jovens a partir de 16 anos nos spas do sistema prisional brasileiro não contribuirá para a sua nova inclusão e ou ressocialização como queiram, no seio de nossa sociedade, donde eles brotam feitas favoritas em acostamento de rodovia.
    Dados estatísticos provam que jovens entre 16 e 18 anos são responsáveis por menos de 1 (um) dos crimes praticados no país. Se forem considerados os homicídios e tentativas de homicídios, esse número cai para 0,5%;
    O nosso amado e reiterado governo deve sim, investir em educação e em políticas públicas para proteger os jovens e reduzir a fragilidade deles ao crime. A redução da maioridade penal irá sem sombra de duvidas a priori, atingir jovens negros, pobres e moradores dos arrabaldes periféricos. Pois é o retrato fidedigno de boa parte da população carcerária brasileira. Pesquisas atestam cerca de 70% da população carcerária brasileira é composta por negros (UFSCar-Universidade Federal de São Carlos).
    Politicas publicas associadas ao modus vivendis e a educação do berço a meu ver em mais duas gerações já começaríamos a ver resultados mais animadores. Jovem mais estudioso e esperançoso de um futuro em um país que lhes incluam, certamente descerá estes níveis alarmantes de delinquência dos nossos inimputáveis.
    É a minha opinião. Não palavra de rei. Carece mais estudos, mais coerência e pertinência em um todo.
    Sergio José – Old Rubens.

    • Corrigindo:
      Dados estatísticos provam que jovens entre 16 e 18 anos são responsáveis por menos de 1 (um) % (por cento) dos crimes praticados no país.
      Old Rubens.

  4. Parabéns Ary realmente um texto muito bom que nos leva a refletir, e pensar em como podemos ajudar estes adolescentes, invés de condená-los.

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